A Polícia Civil de Minas Gerais decidiu não indiciar Hudson Nunes de Freitas, de 22 anos, ex-auxiliar de educação física do colégio Magnum, no bairro Cidade Nova, na região Nordeste da capital, acusado de abusar sexualmente de crianças da instituição.
De acordo com a corporação, não foram encontrados elementos para declarar o jovem culpado e há ausência total de provas. Ele foi acusado pela mãe de uma criança de 3 anos no início deste mês.
Desde que o caso veio à tona, no dia 5 de outubro, Hudson sempre negou ter cometido qualquer crime, tanto em depoimento à polícia quanto em entrevistas à imprensa. Em entrevista à rádio Super Notícia 91,7 FM no dia 8 de outubro, ele disse que estava com a consciência limpa. Na semana passada, pais e alunos do Magnum fizeram uma manifestação de apoio a Hudson na porta da escola.
Investigações
Ao todo, de acordo com a corporação, sete boletins de ocorrência foram registrados por representantes legais de crianças do maternal III e do módulo infantil.
Para concluir o inquérito, a Polícia Civil realizou escutas especializadas com as crianças e seus representantes e com funcionários, professores e testemunhas do colégio.
Foram analisados exames de corpo de delito, áudios das supostas vítimas, a vida pregressa do suspeito e mais de 30 horas de imagens de câmeras de segurança.
Além das crianças, alguns dos pais também passaram por avaliações psicológicas feitas por uma equipe composta por três psicólogas e uma psiquiatra.
Após a apuração, a Polícia Civil concluiu que nenhuma das crianças sofreu qualquer tipo de abuso, nem pelo suspeito nem por funcionários da escola ou por outra pessoa fora dela.
Rapidez na apuração
Questionadas sobre a agilidade das investigações, que começaram no dia 4 de outubro, as delegadas Elenice Cristine Batista Ferreira, Thaís Degani e Renata Ribeiro falaram que era preciso dar uma resposta à sociedade. Veja um trecho desta parte da entrevista:
Pais não erraram
Segundo a corporação, os pais não erraram em realizar as denúncias. A falha veio nas técnicas de abordagem que podem ter prejudicado a exatidão das informações. A forma como as crianças foram perguntadas, o jeito como o assunto se alastrou pelo ambiente escolar e a ampla divulgação do caso são alguns dos fatores.
"Nas técnicas que prejudicam a exatidão estão conversas entre pares (conversas entre as próprias crianças), recebimento de informações de forma indireta, ampla divulgação do caso pela imprensa, influência das redes sociais e produção de rumores. O assunto estava no ambiente escolar. Esses fatores interferiram para que tantos pais procurassem a unidade policial para registrar informações que nem mesmos eles tinham certeza que haviam ocorrido", explicou a chefe da Divisão Especializada em Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente, Elenice Cristine Batista Ferreira.
Ainda segundo ela, a primeira denúncia pode ter fomentado as demais. "Está comprovado nos autos que logo quando a primeira mãe supôs que seu filho pudesse ter sido abusado sexualmente pelo auxiliar de educação física, divulgou isso no grupo de pais da escola e todos começaram a perguntar e conversar entre si", disse.
Para a Polícia Civil, foi determinante a forma como as crianças foram indagadas pelos pais. "Se você questiona de forma equivocada, você corre o risco de não ter uma fidedignidade dessas informações, e é evidente que qualquer pai que ouve do filho um relato que pode ter uma questão de abuso sexual, vai ficar preocupado e procurar providências. A questão é que a forma como nós abordamos as crianças pode, sim, trazer algum tipo de sugestionabilidade, e nós percebemos nos autos que perguntas foram feitas de forma direta. Em alguns deles a criança nem sequer tinha falado o nome do suspeito, e isso não foi um relato espontâneo das crianças. Pode, sim, ter interferido", afirmou a delegada.
A alegação feita por alguns pais sobre o comportamento estranhos dos filhos também foi avaliada e, segundo os investigadores, alguns dos pais já haviam sido informados pelo colégio anteriormente sobre essas alterações.
A delegada Renata Ribeiro, chefe da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente, também falou que os pais não falharam em procurar esclarecer o caso. "A criança te relatou um fato. Você não sabe se aconteceu ou não. O procedimento dessa mãe foi correto. Ela procurou uma delegacia para saber o que aconteceu com o filho dela. E essa resposta tem que vir da polícia. A investigação é necessária para dar uma reforma técnica e analisar todo o contexto. O relato da criança é essencial mas tem que levar em consideração como a prova foi obtida", afirmou.
Ainda segundo a Polícia Civil, os pais não agiram de má fé. "A investigação não detectou qualquer tipo de dolo ou má intenção desses pais em registrar esses boletins de ocorrência. Tiveram, sim, alguns fatores que influenciaram a procura desses pais a unidade policial? Sim. Foi detectado durante a investigação. Agora é importante frisar que qualquer pessoa que tenha notícias ou suspeitas da prática de abusos sexuais contra crianças, tem que procurar as autoridades responsáveis", afirmou Renata.
"Fato é que os pais não erraram. Não foi encontrado nenhum indício de má intenção. Qualquer suspeita de abuso deve ser denunciada à Polícia Civil", corroborou a delegada Elenice Cristine Batista Ferreira.
A Polícia Civil também confirmou que outros boletins de ocorrência envolvendo filhos da mulher que fez a primeira denúncia foram constatados. Um deles seria uma denúncia de assédio contra a filha dela. "Isso está sob operação em outra unidade policial e não tem ligação com abuso sexual diretamente. Essa mãe desconfiava da prática de assédio dessa criança por meio de internet", afirmou a delegada Elenice Cristine Batista Ferreira, que não deu mais detalhes do caso.
Escola convida Hudson para voltar
A reportagem entrou em contato com o Colégio Magnum, por meio de sua assessoria de imprensa. Leia a íntegra do posicionamento:
"Hoje, a sociedade avança com a confiança na Justiça, fruto do trabalho criterioso, detalhado e ético de toda a equipe de Policiais Civis da Delegacia Especializada de Proteção da Criança e do Adolescente.
Certos de que Deus está conosco no caminho da verdade, todas as provas colhidas na investigação evidenciaram que nenhuma das alegações ocorria em nossa escola. Demonstração disso é que nossos protocolos de segurança foram cruciais para o esclarecimento do caso.
A apuração da Polícia Civil concluiu que não há elementos para indiciar nenhuma pessoa da escola. Mais do que isso, representantes do órgão destacaram que a vítima inicial e as demais que surgiram no desenrolar da investigação não sofreram abuso sexual pelo investigado e nem por qualquer outro professor ou integrante da escola.
Inicialmente, decidimos pelo afastamento do colaborador supostamente envolvido, com o duplo objetivo de resguardar a integridade da família e do colaborador e de permitir que o inquérito pudesse tramitar de forma isenta. Cumprimos nosso papel perante a sociedade, as famílias, nossos educadores e as autoridades competentes. Estando a investigação concluída, permanece o compromisso já firmado com o colaborador afastado de manter sua vaga garantida tão logo ele queira e possa retomar suas atividades.
Agradecemos às inúmeras manifestações de apoio recebidas pelas famílias, por educadores, alunos, ex-alunos e de todos aqueles que confiam em nossa instituição.
Permanecemos com o compromisso que pautou nossos 25 anos de sólida trajetória, conduzidos com o foco no ensino, na formação e na espiritualidade cristã."
Hudson comenta resultado das investigações
Pouco antes das 13h, o jovem de 22 anos deu entrevista ao vivo para o MGTV 1ª Edição, da Rede Globo. No telejornal, ele disse que trabalhou muito, nas últimas duas semanas, para provar sua inocência, ficando de 7h às 21h no escritório de seu advogado.
"Além de provar minha inocência, eu tive que matar um leão por dia. Não teve um momento de descanso, não teve um momento de sossego", disse ele, que não chorou na entrevista, mas estava com a voz embargada.
Sobre a decisão da polícia de não indiciá-lo, ele disse: "Graças a Deus a gente conseguiu concluir essa história toda." Mais tarde, acrescentou: "Só concretizou o que sempre falei, nunca escondi meu rosto, sempre mostrei meu rosto, a gente nunca se escondeu de nada".
Perguntado sobre como se sentiu logo que as acusações vieram à tona, ele disse: "Foi um choque. Jamais pensei que um dia eu seria acusado por algum crime, e o pior de todos, este, né? Uma situação bem complicada e delicada. Eu, minha família e meus amigos ficamos em estado de choque. Até agora minha ficha não caiu que isso aconteceu comigo. Mas sempre tive a consciência tranquila."
Perguntado sobre o que diria aos pais que o denunciaram, Hudson disse: "Aos pais que me denunciaram eu até entendo o lado deles, porque foi uma situação desesperadora, mas a gente, antes de acusar uma pessoa, precisa ter provas concretas sobre isso. Não adianta sair fazendo escândalos, acsando alguém sem ter provas".
Ele também comentou o apoio que recebeu na porta da escola, na semana passada, com presença de pais e alunos do colégio Magnum: "Os próprios pais dos alunos me defenderam. Gostaria de novo de agradecer ao dr. Fabiano Lopes e o dr. Marciano Andrade, que, além de ser meus advogados, são pais de alunos e foram como os pais para mim, que eu nunca tive".
Sobre o que fará daqui por diante e como vai conseguir retomar a vida, ele disse: "A consciência tranquila eu sempre tive, mas a gente ficava com medo de ser acusado injustamente. Penso em retomar minha vida, da forma como sempre foi, saindo às 7h e voltar às 23h. A gente vai colocar os pingos nos is, vai se acertar".
Entrevista à Rádio Super
Na noite desta quinta-feira (17), Hudson concedeu uma entrevista ao programa Patrulha da Cidade, da rádio Super Notícia 91,7 FM.
Leia na íntegra o que ele disse:
Onde você estava quando descobriu que não seria indiciado pela Polícia Civil?
Eu estava na minha casa com a minha família. Recebi a ligação, por volta das 9h30, e fui direto para o escritório dos meus advogados. Nesse caminho, dentro do Uber, ouvi a coletiva (da Polícia Civil) pelo rádio e liguei para o dr. Marciano (advogado). Ele me disse que havia dado tudo certo. Foram segundos de silencio, passou um filme na minha cabeça. Foram 13 dias que pareceram dois anos.
Como você está se sentindo neste momento?
Estou aliviado. Confiei nos meus advogados e tive muita fé. A Polícia Civil fez um trabalho admirável.
Como foram esses dias para você e para sua família?
Foram 13 dias de sofrimento. Até então, a gente não podia se expressar por não ter acesso às informações. Ficamos bastante angustiados. Não dormimos. A única noite que eu dormi em casa, minha mãe pediu para dormir comigo. Ela acordou com crise de pânico, e eu acalentei a mulher da minha vida. Minha família e meus amigos me acompanharam o tempo todo. Eu cheguei a pensar: "Será que eu vou ser mais um jovem que é denunciado injustamente?" Os pais dos alunos me acolheram, fizeram manifestação. Esse apoio fez toda a diferença. Ainda não tive a oportunidade de procurar uma psicóloga, mas quando passar essa tempestade, vou procurar. Eu preciso. Sem o apoio, eu não teria chegado até aqui.
De onde vem a tranquilidade que você demonstrou?
Primeiramente, se você crê em Deus, ele te direciona e te mostra a maneira que deve ser feita. Ficar perto das pessoas que me conhecem desde pequeno e ficar longe da internet e da televisão me ajudou, mesmo que às vezes eu quisesse surtar.
Como é sua relação com as crianças?
A relação era professor e aluno, eu ajudava o professor Tomé na introdução da aula e eu fazia o que ele mandava. E os alunos gostam de aula de educação física.
Você se arrepende de ter mostrado o rosto na imprensa?
Não. Fiz propositalmente. O medo existia, mas minha consciência estava muito tranquila. Eu sei que expor a imagem é perigoso. Assim como tem gente que te apoia, poderia haver gente que não acreditava. Mas eu estava disposto a colaborar com toda a investigação.
Você sofreu algum tipo de ameaça?
De forma indireta, eu via muita coisa na internet. Eu via comentários em matérias dizendo que eu iria pagar por todo o mal que eu havia feito. Tive medo pela minha família também, todos estavam na reta. Muita gente faz um prejulgamento.
Você tem rancor pelos pais que fizeram a denúncia?
Não tenho rancor, nem mágoa. Eles não fizeram certo, foi péssimo passar para a mídia (o caso). Fui ruim também para as crianças. Antes de fazer qualquer acusação ou escândalo, a gente tem que saber que isso gera consequências. E antes de acusar, você tem que ter provas. E pode arruinar a vida de uma pessoa.
Quem são seus advogados e como eles estão sendo pagos?
Eles são pais de alunos e me procuraram. Ninguém pagou. Eles estão trabalhando de forma altruísta. Eles me conheciam. As contas não param de chegar, então, alguns pais se reuniram e fizeram uma vaquinha para minha família.
O Magnum te chamou para voltar a trabalhar na escola?
Me chamaram ontem. Eu não disse que sim, nem que não. Tudo está acontecendo muito rápido, e eu não quero tomar nenhuma decisão precipitada. Vou me reunir com minha família e com meus advogados.Eu quero colocar na balança, tudo que fizeram por mim. Especialmente em relação aos pais.
Como você pensa o futuro a partir de agora?
Eu penso em voltar para a minha rotina normal. Isso tudo é uma tempestade e vai passar. Tenho muita fé em Deus. Somos católicos na minha casa, rezamos bastante e recebi muitas correntes de oração.
E como você está fisicamente?
Estou acabado. Hoje eu consegui comer apenas um pão de queijo.
Texto atualizado no dia 18 de outubro, às 8h41