O mistério preenche boa parte da vida de Carlos Gardel, cuja imprecisão é a marca registrada. Sua morte, por outro lado, é mais exata, embora trágica. O mais famoso cantor de tangos da história perdeu a vida num acidente aéreo há 90 anos, em 1935, quando se preparava para uma apresentação na Colômbia.
Como não poderia deixar de ser, Gardel é parte incontornável do espetáculo “Forever Tango”, sucesso de proporções – ao menos do ponto de vista numérico, e concedida a licença poética – intergaláticas.
Elenco oficial da premiada montagem da Broadway, “Forever Tango”, faz um flash mob na Praça Sete, em frente ao Cine Theatro Brasil, em Belo Horizonte, nesta terça (29). pic.twitter.com/m4v2siLynG
— O Tempo (@otempo) July 29, 2025
Visto por milhões de pessoas ao longo de 35 anos, como sublinha o diretor argentino Luis Bravo, o musical que estreou nos palcos da Broadway em 1997, arrematando prêmios e permanecendo 14 meses em cartaz, desembarca pela primeira vez em Belo Horizonte nesta quarta (30), em apresentação única e pra lá de disputada.
“Esperamos que o público mineiro nos receba da mesma forma afetiva e calorosa que fomos recebidos em todo mundo. Eles não verão apenas um espetáculo de tango, mas uma produção da Broadway em toda a sua plenitude”, garante Bravo.
Do desprezo ao sucesso
Com doze dançarinos, um vocalista e uma orquestra formada por seis músicos – incluindo o instrumento símbolo do tango, o bandoneón que consagrou o célebre e revolucionário Astor Piazzolla – o espetáculo foca sua lente no nascimento do gênero que se tornou o mais representativo da cultura argentina, quando milhares de homens abandonaram uma Europa em crise para buscar trabalho na América do Sul, encontrando-se em matadouros, bares e arrabaldes para compartilhar uma existência soturna e melancólica.
Desprezado pela burguesia num primeiro momento, o tango logo dominou quadris e corações, convertendo-se em mania nos salões da alta sociedade parisiense. “Nada define melhor um argentino do que o tango. O tango é uma referência cultural, uma idiossincrasia de vida que tem na música a sua expressão artística, e, na dança, uma interpretação dessa música que sofreu e sofre as mudanças políticas, sociais e culturais dos artistas que o concebem e cultivam”, enaltece Bravo.
De Carlos Gardel, “um dos maiores cantores que já existiu, grande representante da Buenos Aires romântica e nostálgica”, a montagem pinça a irresistível “El Día que Me Quieras”, que comparece ao lado de canções de Armando Discépolo e de Omar Alfanno, neste caso “interpretada em forma de candombe, que nada mais é do que um reconhecimento da influência da música caribenha no tango”, sublinha Bravo.
Irmandade entre povos
Todo esse rico arsenal se conecta, na opinião do diretor, “à qualidade dos artistas, ao espírito do show e ao nível superlativo de seus executantes” que vêm garantindo a perenidade desta longeva obra. “Acredito, sinceramente, que esse não é o tipo de show de tango que o público brasileiro está acostumado a assistir em Buenos Aires”, provoca Bravo, para quem o atual distanciamento entre os presidentes das nações não interfere na histórica relação construída pelos povos.
“Não acredito de forma alguma que os povos tenham estado distanciados em algum momento. Nenhum líder político de plantão encarregado de dirigir os destinos de duas pátrias tão irmanadas por séculos pode ou poderá romper os laços tão fortes que sempre tiveram, muito menos a devoção que ambos têm pela arte um do outro. A meu ver, o distanciamento ideológico que os líderes de plantão possam pretender é insignificante ao lado do trabalho dos artistas”, assinala Bravo, que já acena com novos planos no horizonte.
“Tenho outra obra já criada, uma ópera que apresentei no Japão e em São Francisco em 2001, e que os acontecimentos de 11 de setembro forçaram o adiamento. Para o resto deste ano, temos compromissos na Europa, México, Estados Unidos e Taiwan. Estamos aguardando um teatro na Broadway para apresentá-lo no próximo ano pela sexta vez”, afirma o diretor argentino.
Serviço
O quê. Espetáculo “Forever Tango”, da Broadway
Quando. Nesta quarta (30), às 21h
Onde. Cine Theatro Brasil (av. Amazonas, 315, Centro)
Quanto. De R$150 (meia) a R$400 (inteira) na bilheteria do teatro ou pelo site www.eventim.com.br