O novo presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Juliano Lopes (Podemos), comentou sobre os bastidores da articulação para a composição da mesa diretora do legislativo durante entrevista exclusiva ao programa Café com Política, da FM O TEMPO 91,7. O vereador falou, ainda, sobre sua relação com o ex-presidente da Casa, Gabriel Azevedo (MDB), e pontuou o que vê como mais importante para ser discutido na nova legislatura.

A entrevista completa está disponível no canal O TEMPO no Youtube.

Leia entrevista na íntegra:

Pergunta: Vários vereadores, ainda no final do ano passado, já haviam manifestado a posição de apoio a sua candidatura. Que avaliação o senhor de como o processo que foi conduzido da parte do grupo do senhor, da parte da Prefeitura de Belo Horizonte, todo mundo se manteve como esperado? Alguém saiu da rota? 

Reposta: O vídeo do apoio dos vereadores foi gravado dia 27 de outubro, logo após a eleição. Naquele dia e vários vereadores fizeram a declaração de apoio à nossa candidatura, porque sempre o prefeito disse que não iria atuar na mesa da Câmara. Vereadores da base do prefeito, vereadores de partidos que faziam parte da coligação do prefeito, vou dar o exemplo aqui do PRD, que doou quase R$ 1 milhão para a campanha do prefeito, chegaram até o prefeito e falaram ‘olha, nós queríamos saber a posição’, e a prefeitura disse ‘nós não vamos intervir, fiquem a vontade, independente’.

A partir disso foi feito o vídeo, e a partir disso estava tudo muito tranquilo. O prefeito fez um café da manhã com todos os 41 vereadores na prefeitura, disse a todos que não iria intervir na eleição da mesa. Inclusive diz também em relação à mesa, que para ir para a prefeitura não tinha que optar se o PL iria ou não participar da mesa, e até então estava tudo sendo conduzido da melhor forma possível.

A partir do dia 23 de dezembro, praticamente véspera de Natal, o vice-prefeito Álvaro Damião exonerou o secretário, começou os movimentos e começou a oferecer mundos e fundos para os vereadores que haviam gravado aquele vídeo. É de conhecimento de vocês as traições. O próprio vereador Bruno Miranda disse que não seria candidato, resolveu ser candidato na última hora. Foi um dos traidores. A traição do meu partido, vereador Lucas Ganem, que nem em Belo Horizonte mora, existe um processo contra o mandato dele. 

Um vereador do PCdoB, vereador de Edmar Branco também nos traiu. Esse aí, além de trair, já foi recompensado. Nomeou um diretor, um membro, um filiado do PCdoB a uma regional.

Pergunta: O que fez a prefeitura mudar de ideia, na opinião do senhor?

Resposta: Não sei. Eu creio que isso não partiu do prefeito Fuad,  que sempre manteve muito cuidado com a Câmara e comigo, principalmente durante a campanha. Reuniu comigo, conversou comigo. Eu creio que isso partiu do Vice-Prefeito, que foi nomeado Secretário, atuando nos bastidores.

Pergunta: Pensando numa possível dificuldade que teria no Governo dele na legislatura que vai começar?

Resposta: Qual a dificuldade? Nós fizemos parte do governo no último ano. Em abril, o prefeito Fuad exonerou a secretaria do nosso grupo todo. Nós continuamos na base da prefeitura, todos os vereadores nossos, continuaram na base até dezembro, cumprimos um acordo com o prefeito de dar sustentação dele na Câmara Municipal. Qual é o medo? Medo de quê? Existe algum terrorista aqui? Por que isso? Por que não respeitou a vontade do prefeito? 

Mas eu quero aqui agradecer a todos esses vereadores que mantiveram firme e a partir de agora quem quiser ir para a base que vai, quem quiser ir para a oposição, quem quiser ficar independente, que vai.

Me dou muito bem com a direita, me dou muito bem com a esquerda. Não tenho, graças a Deus, problema nenhum com nenhum desses vereadores eleitos e nem no passado. Agora cabe a prefeitura juntar os cacos. 

Pergunta: Mas o vice-prefeito falou que agora para ir para a base não vai dar não, quem é da base já demonstrou que era da base,

Resposta: Se ele disse isso, tudo bem, ele tem que saber o que ele quer. Se o vereador é do partido da base e ele não quer, cabe também o vice-prefeito e vim aqui esclarecer isso, já que ele não quer mais ninguém da base dos 23 vereadores. Então isso é um problema dele. 

Pergunta: Houve uma conversa, para que a candidatura do senhor tivesse algum consenso com a Prefeitura de Belo Horizonte, mesmo depois do início do que se está chamando dessa traição dos parlamentares. Chegou a acontecer? Houve alguma tentativa em algum momento vereador, para que houvesse algum acordo?

Resposta: Conversamos até o final e algumas coisas pedidos pela prefeitura foram aceitas. Algumas coisas não, mas o diálogo sempre manteve aberto. Fomos bem claro. A gente quer fazer uma câmara independente, mas parceira da prefeitura, porque na ponta está o belo-horizontino que votou no Fuad, que votou no Álvaro, que votou nos 41 vereadores. E estamos abertos também.

Pergunta: O senhor lamenta especificamente a saída do secretário de governo Anselmo José Domingos?

Resposta: Lamento muito a forma que ele foi tirado da prefeitura. Eu até hoje, com 12 anos de vida pública, participei de dois grupos políticos. Em 2007, quando fui candidato a primeira vez pelo PTC, conheci o então vereador Anselmo José Domingos, que me chamou para fazer parte do grupo dele. Fiquei no grupo dele até 2018, quando ele disse assim que não vai me candidatar mais e disse ‘ocê fique a vontade para seguir sozinho ou em grupo’.

Como eu vejo que política é grupo que quem acha que caminha sozinho vai ficar para trás, eu fui convidado para participar, com muito orgulho, do grupo do secretário da Casa Civil, Marcelo Aro, do qual tem meu respeito e agradeço o convite, estou lá até hoje. Mas o Anselmo é um político experiente, percebeu que poderia dar algum problema lá na frente.

Você ligue para os 41 vereadores eleitos e diz que dia que o ex-secretário de governo Anselmo José Domingos, pediu para alguns votar no Professor Juliano. Ligue para ele, ligue para os 41. Anselmo é um cara muito ético. Agora, o fato de eu ter pertencido no grupo dele quase dez anos, não tinha motivo nenhum para fazer essa exoneração, que quem perdeu com isso para mim foi a prefeitura, que perdeu um político sério, um cara do diálogo e um cara que sabe conversar com todos.

Pergunta: Muitos elogiaram Álvaro Damião como uma presença importante na prefeitura por ter essa experiência parlamentar. Diante de tudo o que aconteceu para eleição da Câmara, da Mesa Diretora, ele sai enfraquecido na opinião do senhor? Ou esse poder de articulação é colocado em xeque? 

Resposta: Na minha opinião, ele está desgastado, que é um vice-prefeito que se autonomeia secretário de governo, oferece tudo mais um pouco e não conseguiu o que ele queria, no mínimo saiu enfraquecido, desgastado.

Aí cabe a prefeitura rever o que será feito com ele, partir de agora para frente.

Pergunta: E como que vai ser essa conversa agora?

Resposta: Eu sou uma pessoa do diálogo, do bom senso, estou aberto a conversar. Ele fala que não vai precisar da Câmara, que já aprovou todos os projetos importantes, então é um posicionamento dele. Mas da nossa parte aqui, eu represento 41 vereadores. a gente precisa ter um diálogo com a prefeitura e quem me conhece sabe que eu sou um diálogo.

Pergunta: Do ponto de vista da sua gestão, primeiro sobre uma perspectiva de comparativa, a sua gestão terá algo similar a gestão Gabriel Azevedo? Ou ela será uma antítese do que foi a gestão de seu antecessor?

Resposta: Eu não quero me comparar com o Gabriel. Ele fez a gestão dele. São dois perfis completamente diferentes. Eu tenho o diálogo, quero tentar, na maneira do possível, contemplar todos os 41 vereadores lá na Câmara Municipal e cabe a os vereadores fazer julgar em relação a nossa gestão. O que eu pretendo é deixar uma câmara muito mais democrática que era, por exemplo, nós tivemos na época do Gabriel Azevedo verificação de quórum dura 4 segundos. Foi autoritário e isso eu não vou fazer. Não tenho esse perfil. Eu espero, sim, conduzir na melhor transparência possível. 

Pergunta:  O que você quer ver nesses quatro anos? Qual é a marca de Juliano Lopes Lobato? Que tipo de projeto você tem colocado à mesa e que imagina ser importante do ponto de vista institucional da Câmara de BH? 

Resposta: Espero manter a transparência para com a população e espero poder continuar fazendo meu papel também como vereador, que é sempre de fiscalizar, acompanhar a prefeitura e manter o diálogo aberto. Essa é a minha perspectiva. 

Pergunta: O senhor disse que o ex-presidente Gabriel Azevedo usou a cadeira para benefício próprio, e o senhor se referiu à cadeira do presidente da mesa diretora, que a cadeira do senhor seria uma cadeira como a mesma de todos os vereadores. E o que representa isso? 

Resposta: Representa o diálogo aberto com todos os vereadores, representa humildade. A cadeira ele usava era a cadeira de Afonso Pena, pedi que fosse devolvida ao museu. Era uma caveira que coloca toda a arrogância que existe em cima daquela cadeira. E eu não sou assim. Eu espero está aberto o diálogo com todos os vereadores e qualquer tipo de comparação com Gabriel espero estar do lado oposto. Não quero comparação com ele, porque para mim foi um presidente autoritário e conduziu a Câmara para o benefício próprio. Ele queria ser prefeito de Belo Horizonte, então, para ele, quanto pior, melhor. Eu não sou candidato a prefeito de Belo Horizonte, porque a eleição é daqui a quatro anos. Ele conduziu a Câmara benefício próprio, porque ele queria que a prefeitura ia se desgastar o mais possível. Ele fez de tudo para atrapalhar a prefeitura, depois que acabou eleição, que ele foi um candidato derrotado, ele aproximou da prefeitura, juntamente com Bruno Miranda, aliado dele, para fazer o Bruno Miranda, presidente da Câmara, ou seja, um cara que atrapalhou a prefeitura durante esses quase dois anos, fez de tudo para atrapalhar o prefeito Fuad. Mas lá no final, após as eleições, ele juntou com o líder de governo para tentar também ganhar a mesa. Então também foi uma derrota do Gabriel Azevedo, que com tudo que pôde fazer, perdeu a mesa diretora. Dessa vez ele perdeu de fato. E da outra vez ele ganhou conosco, com o grupo da família Aro, ele tinha três votos, nós tínhamos 18 votos, mas ele não cumpriu o papel dele, que era me entregar o segundo mandato, que era para ser presidente. 

Pergunta: O senhor ficou com algum receio de não conseguir a presidência dessa vez e ser mais uma vez traído?

Resposta: Não, porque eu sempre confiei na palavra desses vereadores, e os vereadores confiam em mim. Vários vereadores ali que estava comigo, foram vereadores reeleitos e me conhece. Lógico que você pode ser traído um lado ou do outro, como fui traído, mas eu tinha certeza da nossa vitória, porque a gente sempre jogou limpo, transparente, com todos, bem claro em relação ao futuro da Câmara. Nós estamos aqui com o PL, com o PSD, o PRB, com o Solidariedade e depois que acabar a eleição, cada um vai seguir o seu caminho, o que achar melhor.

Mas naquele momento aqueles vereadores e muitos sentiram também o fato do Gabriel Azevedo não ter cumprido comigo a presidência. Eu ter um documento assinado por ele da renúncia da presidência, ele mudou a sua carteira de identidade, a assinatura. Eu fui notificado oficialmente da mudança. Então esses vereadores perceberam que fui injustiçado, aliaram a mim e não mudaram o voto. 

Pergunta: Inexoravelmente passará pela Câmara a discussão sobre o novo contrato de ônibus da cidade. O senhor pessoalmente tem já impressões e o que gostaria de ver nesse contrato? Pensa em formar comissão específica para tratar disso na Câmara Municipal?

Resposta: A população de Belo Horizonte está satisfeita com o transporte público? Faça essa pergunta nos ônibus e você vai ver que 90% não está. Então esse contrato tem que ser revisto. Esse contrato não pode continuar da forma que ele está, e com certeza a Câmara Municipal tem lá uma comissão de transporte. Se precisar fazer outra comissão mais para frente para avaliar esse novo contrato, nós iremos fazer. 

É uma responsabilidade dos 41 vereadores, porque que ele será refeito no final de 2028, terminando a legislatura desses vereadores. Então ele tem que ser discutido nessa legislatura, não pode ser colocado goela abaixo. Da minha parte e eu tenho certeza, dos 41 vereadores, todos querem discutir o novo contrato de concessão do transporte público na cidade de Belo Horizonte.

Pergunta: Sobre subsídio, o senhor vê como inevitável que ele permaneça na cidade para que a passagem não suba? 

Resposta: O subsídio é importante. Em todas as capitais existem subsídio. O que não pode acontecer é a prefeitura alocar o recurso e lá na ponta, o usuário do transporte público não está satisfeito. Sou contra esse tipo de subsídio. O que está acontecendo aqui em Belo Horizonte, é que eles recebem subsídios e não oferecem um bom transporte de qualidade. Fomos surpreendidos com esse aumento de passagem de quase 10%. A prefeitura está praticamente dando R$ 700 milhões para 2025, mais 10% de aumento? Isso está certo? 

Pergunta: O senhor está tentando verificar o melhor dia para poder se reunir com vereadores para ouvir as demandas, abrir aí o espaço dentro da Mesa Diretora. Esse encontro seria com vereadores da base ou com todos os vereadore? Já tem uma data certa para que isso ocorra? 

Resposta: Estamos em recesso na Câmara, o mês de janeiro não tem plenário. Os vereadores reeleitos, na verdade, estão viajando. No início desse mês de janeiro é impossível reunir com todos. Quem está em Belo Horizonte agora são os que foram eleitos pela primeira vez. Eles estão olhando gabinetes, estão olhando vaga de garagem, de carro. A gente está fazendo a parte de administração da Câmara, porque o mês de janeiro para isso, mas eu pretendo encontrá-los, ouvi los. Nós já estamos recebendo os pedidos que eles querem participar das comissões temáticas da Câmara Municipal. Estão mandando por e-mail. Nós estamos montando a nossa passa para depois ir conversando com cada um em relação às possibilidade de ir para as comissões. 

Pergunta: Quem não votou no senhor não tem retaliação?

Resposta: Zero, retaliação zero. Não tem qualquer tipo de retaliação com eles. Eles têm esse direito, como os outros vereadores. 

Pergunta: Sobre a destinação do Aeroporto Carlos Prates já há um processo avançado da parte da prefeitura, de construção de moradias populares. O senhor vê esse projeto já plenamente satisfatório? 

Resposta: Realmente já está definido que será uma área para moradias. É o que eu espero que a prefeitura tem a responsabilidade e que coloque de fato um novo Posto de Saúde. Coloque de fato um transporte para atender essa população, que coloca de facto o parque, o lazer, para que as pessoas possam usar, porque é levar moradia sem qualquer tipo de infraestrutura em volta, eu sou contra. 

Já está resolvido, não tem como voltar atrás. Agora, o que nós temos que lutar é que essas pessoas que vão morar lá e as pessoas que já estejam lá tenha no mínimo uma infraestrutura de transporte, saúde, educação. Porque pegar moradores, colocar lá e não dar qualquer tipo de infraestrutura, nós somos contra.

Pergunta: O prefeito sancionou ontem a reforma administrativa, ampliando secretarias, algumas secretarias adjuntas também. Tem alguma possibilidade de que o seu grupo político possa voltar a fazer parte de uma base do prefeito? 

Resposta: Como eu disse, estamos abertos ao diálogo. Se a prefeitura achar que devemos fazer parte da parte de estrutura dela, vamos conversar. Nunca disse que seria oposição ao prefeito. Pelo contrário, a gente sempre vem conversando muito com o prefeito durante a eleição. Honramos o nosso compromisso e fomos até dezembro passando a base do prefeito. Por isso que achei estranha essa movimentação com o seu o Álvaro Damião, Bruno Miranda e companhia, porque nós tivemos na base do prefeito. 

Pergunta: Para decidir algo na Câmara a partir de agora, o que conta primeiro: a opinião de Juliano Lopes ou a opinião do grupo político ao qual ele faz parte? 

Resposta: A opinião de todos os vereadores. 

Pergunta: Como fica a relação agora com a Prefeitura diante de tudo o que ocorreu dentro dessas articulações do vice-prefeito Álvaro Damião?

Resposta: Espero que possa ficar boa a relação com a prefeitura.

Pergunta: O prefeito Fuad Noman?

Resposta: Desejo ao prefeito recuperação, é um homem do bem, um cara que merece dar a volta por cima. E eu espero que ele volte a conduzir a Prefeitura de Belo Horizonte. 

Pergunta: Bruno Miranda?

Resposta: Traidor.

Pergunta: Álvaro Damião?

Resposta: Desastroso.