BRASÍLIA - Um grupo de 10 deputados, sendo nove mulheres, denunciou o senador Plínio Valério (PSDB-AM) ao Conselho de Ética do Senado por uma fala sobre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Na última sexta-feira (14), ele falou, em um evento público, sobre a dificuldade que ele teve de ouvi-la “sem enforcá-la”. A representação foi protocolada no início da tarde desta quinta-feira (20).
A punição foi pedida pelas deputadas federais Enfermeira Ana Paula (Podemos-CE), Benedita da Silva (PT-RJ), Duda Salabert (PDT-MG), Gisela Simona (União Brasil-MT), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Laura Carneiro (PSD-RJ), Maria Arraes (Solidariedade-PE), Tabata Amaral (PSB-SP) e Talíria Petrone (Psol-RJ). O deputado que também assina é Túlio Gadelha (Rede-PE).
Na avaliação dos autores da denúncia, a fala gerou “forte reação pública”. Além disso, “ultrapassa os limites da imunidade parlamentar, uma vez que não possui qualquer relação com sua atuação como representante do Estado do Amazonas, mas sim um evidente caráter de violência de gênero”.
“A fala não apenas minimiza e desqualifica a presença da Ministra Marina Silva no cenário político, como também reforça um discurso de incitação à violência contra a mulher, um crime tipificado na legislação brasileira e que tem sido amplamente combatido, sobretudo no contexto da política nacional”, afirmaram.
A representação protocolada no Conselho de Ética cita ainda que “o uso do termo ‘enforcá-la’ direcionado a uma mulher em um contexto de discordância política carrega uma carga simbólica extremamente grave, pois remete à supressão da voz feminina pelo uso da força, à tentativa de desqualificar e intimidar uma liderança política pelo simples fato de ser mulher”.
“Esse tipo de manifestação não se trata de um mero excesso verbal, mas de uma incitação à violência, reproduzindo a cultura de ameaça e silenciamento que historicamente tem afastado mulheres da política”, completou.
Não há previsão para que o recebimento da denúncia seja analisado. No Conselho de Ética, as punições podem variar a partir de uma advertência até a perda do mandato parlamentar.
Entenda
Na última sexta-feira (14), em um evento da Fecomércio do Amazonas, Plínio Valério se referiu ao depoimento que a ministra concedeu à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou, em 2023, a atuação de Organizações Não Governamentais (ONGs) na Amazônia.
“A Marina esteve na CPI das ONGs: seis horas e dez minutos. Imagine o que é tolerar Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”, disse, no microfone do evento, arrancando algumas risadas dos presentes.
“A minha mulher que está ali, a Ana, mandava mensagem o tempo todo instigando, jogando gasolina. E no final ela me disse: ‘Se você tivesse 10% da paciência que teve com a Marina, a gente nunca brigava’”, continuou o senador. A reportagem pediu uma manifestação do senador sobre a fala, mas ainda não obteve retorno.
A ministra reagiu e declarou que “só os psicopatas” têm fala semelhante, ainda que em tom de brincadeira. Ela falou na quarta-feira (19), em entrevista ao programa Bom Dia, Ministra, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Ela atribuiu a fala a um ato de violência política de gênero.
“Eu fico imaginando alguém que é ministra do Meio Ambiente, alguém que de certa forma é conhecida dentro e fora do país, ter que ouvir uma coisa dessa de alguém incitando a violência por discordar de alguém. Porque isso é uma forma de incitar a violência contra uma mulher. Dificilmente, talvez, isso fosse dito se o debate fosse com um homem”, disse.
A ministra continuou: “É dito porque é com uma mulher, uma mulher preta, de origem humilde e uma mulher que tem uma agenda que, em muitos momentos, confronta os interesses de alguns que, no meu entendimento, deveriam ficar apenas no espaço da divergência política, e não no incentivo à violência”.
No mesmo dia, Valério expôs sua posição em um discurso no Senado. “Eu não falei da mulher Marina. Eu falei da ministra Marina, que não tem a sensibilidade de liberar uma estrada para que nós não morramos, para que eu possa chegar ao resto do Brasil! Não tenho o direito, porque ela não deixa!".
“Aí você fala: ‘Mas não tem o direito de ofendê-la...’. Claro que não, mas eu não ofendi! Ela me ofendeu agora”, continuou, em referência ao uso da palavra “psicopata” pela ministra.