BRASÍLIA — As ligações e as mensagens dos deputados do PSOL para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não são atendidas e respondidas desde a manhã de quarta-feira (9). O silêncio começou antes do início da sessão do Conselho de Ética que decidiu pela cassação do mandato do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) e seguiu após a votação — Motta cancelou a reunião do colégio de líderes que aconteceria nesta quinta-feira (10) e o paradeiro dele é desconhecido, segundo a bancada do PSOL.

A indisposição piorou depois que o presidente recuou e decidiu que as sessões do plenário de segunda-feira (14) a quarta-feira (16) serão virtuais. Inicialmente, na última reunião do colégio de líderes, na quinta-feira (3), Motta disse a interlocutores que as sessões dos dias 14 a 16 seriam presenciais, apesar do feriado da Semana Santa, que começa na sexta-feira da Paixão (18). A bancada do PSOL vê a mudança como uma estratégia de Motta para esvaziar a Câmara dos Deputados e isolar Glauber Braga.

"O presidente da Câmara, infelizmente, desconvocou as sessões presenciais da próxima semana. Ele havia anunciado que as sessões aconteceriam normalmente apesar do feriado. Por coincidência, logo após a aprovação desse processo absurdo no Conselho de Ética e do anúncio da greve de fome, a Câmara vai ser esvaziada na próxima semana", criticou a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP). 

Com a cassação aprovada pelo Conselho de Ética em uma sessão atropelada, Braga deu início a um protesto silencioso com direito a greve de fome e permanência na Câmara dos Deputados em período integral. Ele dormiu nessa quinta-feira no plenário 5, no corredor das comissões, e prometeu que não sairá do Congresso Nacional — e não encerrará o jejum — até o fim do processo de cassação do mandato. Glauber Braga ainda pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e a cassação só é concluída após análise do plenário da Câmara. 

Nesta quinta-feira, autoridades religiosas participaram de um culto ecumênico em solidariedade a Glauber Braga. Pelo plenário 5 passaram deputados da bancada do PSOL e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT e um dos principais articuladores na negociação para garantir uma pena mais branda para Glauber.

Isolamento de Glauber preocupa aliados 

Minutos antes do início do culto ecumênico, a deputada Sâmia Bomfim, com quem Glauber é casado, chegou ao plenário de mãos dadas com o filho deles, Hugo, de 3 anos. No fundo da sala, um colchão foi inflado para o deputado; uma sacola guardava roupa de cama e um travesseiro. 

A estratégia adotada por Glauber é o silêncio. O deputado optou por não conversar com a imprensa nessas primeiras horas da greve, e Sâmia é quem tem falado por ele. O parlamentar recebe apoio médico da Câmara dos Deputados, e a sala é guardada pela polícia legislativa. Durante o dia, Glauber recebe visitas de apoiadores e aliados, mas o isolamento do deputado preocupa. "Tem uma tentativa de isolamento desse espaço", avaliou Sâmia no início da tarde de quinta-feira. 

A preocupação é que, sozinho, o deputado fraqueje. Para evitar, aliados coordenam um rodízio para garantir que Glauber sempre esteja acompanhado. Pela manhã, a assessoria de comunicação publicou uma nota dizendo que ele está bem e detalhando que o deputado ouve músicas da banda NX Zero quando está só.