Senadores brasileiros que foram a Washington em busca de abertura de diálogo sobre o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disseram nesta quarta-feira (30/7) haver outra crise no horizonte: países que fazem negócios com a Rússia podem sofrer sanções norte-americanas.
“Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias. Tanto republicanos quanto democratas foram firmes em dizer que vão aprovar uma lei que vai criar sanções automáticas para todos os países que fazem negócios com a Rússia”, afirmou o senador Carlos Viana (Podemos-MG) em entrevista coletiva, ao lado dos demais parlamentares brasileiros.
“Será uma lei americana, não será uma decisão, portanto do presidente dos Estados Unidos, será do Congresso americano”, completou Viana. A informação foi confirmada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS).
“Eles estão preocupados em acabar com a guerra [com a Ucrânia], e eles acham que quem compra da Rússia dá munição para a guerra continuar”, disse a parlamentar, referindo-se aos congressistas norte-americanos da oposição e situação, contrários à guerra iniciada pela Rússia.
Nesta quarta, Trump anunciou “multa” à Índia por causa das negociações de equipamentos militares e energia do país com a Rússia. “Embora a Índia seja nossa amiga, ao longo dos anos fizemos relativamente poucos negócios com eles porque suas tarifas são altíssimas, entre as mais altas do mundo, e eles têm barreiras comerciais não monetárias mais rigorosas e incômodas do que qualquer país”, escreveu o republicano no Truth Social, sua rede social.
Trump afirmou, ainda, que a Índia também sempre comprou a grande maioria de seus equipamentos militares e de energia da Rússia, com a China, reiterando que o comércio entre os dois países ocorre mesmo em um momento em que o mundo quer que Moscou “pare com a matança na Ucrânia”. "Tudo isso não é bom! A Índia, portanto, pagará uma tarifa de 25% mais uma multa pelo citado acima, começando a partir de 1º de agosto”, completou o norte-americano.
Já para o Brasil, Trump anunciou, em 9 de julho, sobretaxas comerciais de 50% sobre os produtos brasileiros, que devem entrar em vigor nesta sexta-feira (1º/8). Ao anunciar sua guerra comercial com o Brasil, o republicano criticou uma suposta “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe em 2022.
Jaques Wagner defende encontro entre Lula e Trump
Organizada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), a comitiva de oito senadores brasileiros iniciou a agenda de compromissos em Washington na segunda (28/7) e encerrou os trabalhos nesta quarta, quando todos embarcaram de volta para o Brasil.
Um dos integrantes da comitiva, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), afirmou, também na coletiva desta quarta, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está disposto a debater com Donald Trump uma saída para as tarifas impostas a produtos brasileiros.
“Ele (Lula) já disse: ‘Não tenho problema em conversar’. E não tem mesmo. (...) Se depender do lado brasileiro, para tratar coisas que esse grupo não tem como tratar. As outras questões levantadas, Brics, é uma questão que pode ser debatida em um encontro bilateral. Só não vou dizer que vamos debater a questão do Judiciário, porque no nosso país, as coisas são independentes. Podemos até conversar, mas não mandamos no Judiciário. A possibilidade está aberta, é só organizar”, disse Wagner.
O senador defendeu que a conversa seja presencial, o que dificultaria sua realização antes de 1° de agosto, quando a nova taxação entra em vigor. Segundo ele, caberá às diplomacias dos dois países combinarem as condições de uma eventual conversa.
“Já falei ao presidente Lula que falou que quer ser respeitado. Uma coisa dessa precisa ser preparada. É a diplomacia americana com a diplomacia brasileira. Uma visita presidencial seguramente não acontecerá até 1° de agosto e não acho que essas coisas se resolvam por telefone”, acrescentou Wagner.
Lula afirmou, em entrevista ao jornal The New York Times (NYT) publicada nesta quarta-feira, que trata com “máxima seriedade” o anúncio de tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil, mas que isso não significa “subserviência”.
“Tenham certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência. Trato todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito”, afirmou Lula ao periódico norte-americano.