Investigação

Silvinei Vasques diz na CPMI que a PRF é vítima da 'maior injustiça' da história

Investigado por improbidade administrativa em razão da acusação de pedir votos para o então presidente Jair Bolsonaro, Vasques se aposentou no fim do ano passado

Por Renato Alves
Publicado em 20 de junho de 2023 | 11:03
 
 
 
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O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques disse, em  depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, nesta terça-feira (20), que a instituição foi vítima da maior injustiça da sua história em função das acusações de fazer blitze em estrada em 30 de outubro de 2022 — dia do segundo turno das eleições — principalmente na região Nordeste, com o intuito de impedir que eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegassem às seções de votação.

“A gente vai ter a possibilidade, pela primeira vez, de combater esta que foi a maior injustiça já realizada na história da Polícia Rodoviária Federal, que nos próximos dias completa 95 anos”, afirmou Vasques em pronunciamento, na manhã desta terça, antes do início das perguntas por parte dos parlamentares que integram o colegiado que visa investigar a sequência de episódios que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes da República em 8 de janeiro de 2023.

Vasques é inquirido como testemunha, na primeira oitiva do colegiado. Entre outras coisas, ele será questionado sobre as blitze ocorridas em rodovias federais em 30 de outubro de 2022. À época, foi noticiado que a PRF estaria interceptando o transporte público. Ainda em 30 de outubro, Vasques foi intimado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, a interromper “imediatamente” as operações da corporação relacionadas ao transporte público de eleitores. 

Sobre a decisão de Moraes proibindo as blitze no dia da votação, ele garante não ter feito nada de errado, apesar de a PRF ter realizado as operações pribidas pelo TSE. “Nós fizemos imediatamente. Não existe qualquer tipo de omissão por qualquer gestor da PRF em qualquer estado da Federação”, afirmou. 

Vasques alegou ainda não haver qualquer prova de que alguém deixou de votar em função das blitze da PRF. "Não existe, até o presente, qualquer registro, uma investigação da PRF, também sendo investigado pelo Ministério Público Federal e da Polícia Federal, registro de qualquer cidadão brasileiro, apenas um, que deixou de votar no dia 30 pelo trabalho de fiscalização da Polícia Rodoviária. Não existe nos registros que são auditáveis da PRF, e vale citar que nenhum policial pode fazer abordagem sem registrar. [...] Nenhum ônibus foi recolhido.” 

O ex-diretor-geral da PRF alegou ainda ser impossível planejar qualquer crime eleitoral envolvendo todos os integrantes da corporação — no entanto, nunca houve acusação de que houve mobilização de tal tamanho; as denúncias são de que um grupo ligado ao então chefe da PRF comandou a ação no Nordeste.

“Muitos policiais eram eleitores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, não há... é um crime impossível que não ocorreu e não tem como. Como nós falaríamos com 13 mil policiais no Brasil, explicando qual era a forma criminosa de operar sem ter uma conversa de WhatsApp, de Telegram, sem ter uma reunião com esses policiais em qualquer delegacia do Brasil, sem ter um e-mail enviado? Será que nenhum desses policiais, e um número grande de ideologia de esquerda, será que desse grande efetivo nenhum participou ou ouviu no corredor alguma coisa? Não tem como fazer uma situação dessa, envolver 13 mil policiais sem ter uma simples conversa de corredor. [...] Ninguém consegue fazer uma trama dessa sem juntar provas. É fantasiosa”, afirmou Vasques.

Investigado por improbidade administrativa em razão da acusação de pedir votos por meio de rede social para o então presidente Jair Bolsonaro, Silvinei Vasques se aposentou no fim do ano passado. Ele estava à frente da PRF desde abril de 2021.

Colegiado aprova convocação de Gonçalves Dias e do coronel Lawand, que pediu golpe

Antes do depoimento de Vasques, a CPMI aprovou nesta terça-feira a convocação para depoimentos do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, e do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha. Na última semana, o colegiado rejeitou requerimentos para convocação deles, mas não descartou recolocar o assunto em votação — como foi feito nesta terça.

Também teve o nome aprovado para convocação o coronel Jean Lawand Junior, do Exército. Na quinta (15), a revista Veja divulgou o conteúdo encontrado pela Polícia Federal no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No aparelho, havia um documento com uma espécie de plano de golpe para anular a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano passado. Foram identificadas mensagens em que Lawand pede que Cid convença Bolsonaro a ordenar uma intervenção militar — o que configuraria um golpe de Estado.

Houve uma quarta convocação nesta terça, do perito da Polícia Civil do Distrito Federal, Renato Martins Carrijo. Ele foi responsável pelo laudo sobre a bomba instalada nos arredores do Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro de 2022, por George Washington De Oliveira Sousa — que deve depor na quinta (22). Carrijo falará no lugar de Valdir Pires Dantas Filho, outro perito da PCDF, mas que não foi responsável pelo laudo do caso.

Com os novos requerimentos aprovados, já são 39 convocações na CPMI do 8 de janeiro. De todos os nomes, 35 foram aprovados na última semana. Entre eles, o de Silvinei Vasques, que depõe nesta terça. 

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