BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por ter se engajado na articulação pelo projeto de lei da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, que também pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.
Nesta quarta-feira (3/9), Haddad disse que “acordou preocupado com a democracia” quando tomou conhecimento dos bastidores em torno da proposta, que ganhou força após reuniões envolvendo Tarcísio.
“Quando você vê que hoje, no Brasil, tem pessoas que não têm apreço pela democracia; quando você vê um governador de São Paulo dizer que não confia nas instituições e na Justiça, que tem que perdoar quem tentou um golpe de Estado; quando você vê uma mobilização de partidos ultraconservadores no Congresso, você fica preocupado”, afirmou em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, na RedeTV.
Na avaliação do ministro, aprovar o perdão aos envolvidos no suposto plano golpista significa dar combustível para que, um dia, um golpe de Estado volte a acontecer no país. Ele também questionou a postura do presidente americano, Donald Trump, em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Será que se o Trump fosse o presidente dos Estados Unidos nas eleições de 2022 o Lula tomaria posse?”, contestou.
A articulação pelo PL da anistia na Câmara ganhou volume nos últimos dias com a atuação de Tarcísio em Brasília. Os principais partidos do Centrão, puxados pelo União Brasil e pelo PP, aderiram à pressão pela pauta. O Republicanos fez o mesmo, interessado em garantir que Tarcísio, que é filiado à legenda, herde o espólio político de Bolsonaro.
Aliados de Tarcísio acreditam que, caso a anistia seja aprovada após a entrada do governador na articulação, isso pode fortalecê-lo na disputa pelo apoio formal de Jair Bolsonaro na corrida ao Palácio do Planalto, mesmo com a resistência de membros da família do ex-presidente, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
As tratativas acontecem durante o julgamento da ação penal da suposta trama golpista na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que pode condenar Bolsonaro na semana que vem. A sessão nesta quarta-feira concluiu a etapa na qual os advogados dos réus apresentam suas sustentações orais. A partir de terça-feira (9/9), os ministros leem seus votos.