O PSOL e a Rede Sustentabilidade têm arestas estaduais a serem aparadas para constituir uma federação partidária. Embora os entraves não sejam considerados tão críticos quanto aqueles enfrentados por PT e PSB, os partidos precisam solucionar impasses no Pará, em Minas Gerais e no Espírito Santo enquanto “preparam o terreno” para avançar. Além disso, o posicionamento na disputa presidencial pode ser um problema, já que o PSOL está inclinado a apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a Rede está dividida entre Lula e Ciro Gomes (PDT). Os partidos têm até 1º de março para pedir o registro junto ao TSE de uma eventual federação
A Rede, até o momento, tem apenas duas pré-candidaturas postas para governos estaduais. O senador Randolfe Rodrigues pleiteia o governo do Amapá e o ex-prefeito de Serra Audifax Barcelos, o governo do Espírito Santo. Entretanto, a legenda está na base de alguns governos, como no Pará e na Paraíba, onde os atuais mandatários têm direito a disputar a reeleição. “A Rede tem uma amplitude de espectro ideológico maior. Isso teria que ser abrigado dentro dessa proposta (de federação partidária)”, afirma o coordenador de Organização Social da Rede, Paulo Roberto Miranda, envolvido diretamente nas tratativas.
Por outro lado, o objetivo do PSOL é ter candidaturas próprias na maioria dos Estados. “Até porque também nos interessa pelo tema da disputa do coeficiente eleitoral. Então, o palanque estadual, para um partido como o nosso, ajuda. E, no Pará, não é diferente. Eu diria até que no Pará isso ganha mais relevância pelo fato de o partido dirigir a prefeitura da capital”, explica o presidente do PSOL de Minas Gerais, Cacau Pereira, em referência ao prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.
O principal impasse está justamente no Pará. Naturalmente, o PSOL quer aproveitar o palanque de Edmilson para lançar um pré-candidato ao Parque da Residência, assim como reeleger a deputada estadual Marinor Brito e a deputada federal Vivi Reis. Porém, a Rede integra o governo Helder Barbalho (MDB), que é pré-candidato à reeleição. Inclusive, a secretária de Cultura, Ursula Vidal, é filiada à Rede e é pré-candidata a deputada federal.
Alexandre Kalil
Em Minas, a situação é similar. A Rede, por exemplo, apoiará a pré-candidatura do prefeito Alexandre Kalil (PSD). “Todos os nossos quadros já estão alinhados com o Kalil. Nós participamos da Prefeitura de Belo Horizonte”, pontua Miranda. O porta-voz da Rede em Minas, Paulo Lamac, foi vice-prefeito durante o primeiro mandato de Kalil. Aliás, Lamac ainda é vinculado à administração municipal, mas como consultor da Secretaria de Meio Ambiente. De acordo com o coordenador de Organização, não há hipótese de a Rede abrir mão do apoio ao prefeito.
Mas embarcar na candidatura de Kalil não é uma opção para o PSOL. A prioridade do partido é construir uma frente ampla para lançar uma pré-candidatura à margem da polarização entre Kalil e o governador Romeu Zema (Novo). “Agora, nós reconhecemos que a prioridade da maioria dos partidos, em particular os maiores partidos de esquerda, como o PT, por exemplo, neste momento, não é a construção dessa frente. Na verdade, o PT está subordinando a um acordo nacional o seu palanque estadual”, argumenta Cacau. Caso o PT endosse a candidatura de Kalil, “o PSOL lançaria candidatura própria”, acrescenta.
Fabiano Contarato
A equação envolve ainda o Espírito Santo, onde Audifax enfrenta a resistência do diretório estadual do PSOL, conforme Miranda. Cacau confessa que não sabe qual a posição do PSOL em relação ao Estado capixaba, mas acredita, por exemplo, que a saída do senador Fabiano Contarato da Rede, também cotado para ser pré-candidato ao governo, pode pesar nas tratativas. “Não é o mesmo cenário que a Rede tinha há algum tempo atrás. Eles, na verdade, perderam a principal figura pública, que é o Contarato, que se projetou muito com a CPI da Covid-19”, disse.
Randolfe Rodrigues, ao contrário de Audifax, teria o apoio do PSOL no Amapá. “Em relação ao Randolfe, que já foi um quadro do PSOL inclusive, há uma relação política de muita colaboração. Então, acredito que, no Amapá, pelas relações políticas, seria um cenário mais fácil, digamos assim”, admite Cacau. Miranda também não vê problemas. “O PSOL aceita a candidatura do Randolfe.” O único acidente de percurso pode ser o convite feito por Lula ao senador para integrar a equipe de campanha do petista, o que poderia levar o senador a desistir da pré-candidatura.
Aliás, a corrida para o Palácio do Planalto também estará na mesa de negociações. Embora o PSOL seja contrário à possibilidade do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin ser o vice de Lula, o partido está inclinado a apoiar a candidatura do ex-presidente. “Estamos, neste momento, em uma campanha de combate ao Alckmin como vice, porque achamos que é uma excrescência. Isso é uma sinalização à direita muito ruim, além de um desestímulo à militância. Mas a posição que, neste momento, é majoritária no partido é não ter candidatura majoritária nacional”, ressalta Cacau.
Na Rede, há quadros também mais simpatizantes a Lula, só que outros atraídos por Ciro. “E até outras candidaturas eventualmente”, pondera Miranda. “Caso a Rede não tenha candidato nem a presidente nem a vice, as pessoas da Rede seriam liberadas para fazer esse apoiamento de acordo com a sua consciência, dado que são projetos que, na verdade, não têm uma proximidade tão grande com o modelo em que a gente pensa”, disse.
“Vida ou morte”
Tanto Cacau quanto Miranda não enxergam a federação partidária como algo de “vida ou morte” para PSOL e Rede. O coordenador de Organização da Rede, por exemplo, lembra que a legenda sobreviveu aos últimos quatro anos sem ter cumprido a cláusula de barreira. “A grande vantagem de uma possível federação com o PSOL é de praticamente garantir acesso a tempo de TV e a recursos do fundo partidário. São duas coisas que a gente não tem hoje. Nesse sentido, essa é uma garantia. (...) As conversas têm sido feitas. Existe o interesse do partido. Há sinergia em alguns estados e problemas em outros, mas tudo ainda está embrionário”, avalia.
O presidente do PSOL de Minas, por outro lado, lembra que a federação é um movimento defensivo ao “ataque à organização partidária” dos últimos anos, mas, ao mesmo tempo, uma saída inteligente encontrada para a sobrevivência dos partidos. “Agora, do nosso ponto de vista, não podemos sacrificar a nossa independência política e programática em função de um acordo como esse, embora o PSOL tenha interesse em manter a sua legalidade. Nós não consideramos que, neste momento, o maior risco do PSOL é não alcançar a cláusula de barreira. (...) Há um empenho da direção em tentar construir as condições para a federação, mas temos ainda um caminho para percorrer”, conclui.