Durante audiência na Comissão de Segurança Pública do Senado Federal, Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes, acusou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de ser “parcial” no inquérito das “fake news”, que investigava a disseminação de informações falsas, difamações e ameaças direcionadas à Corte. Em seu depoimento, realizado nessa terça-feira (2 de setembro), Tagliaferro afirmou que os relatórios teriam como alvo apenas pessoas e grupos ligados ao espectro político da direita.
Conforme abordado na audiência, Moraes teria tentado direcionar o levantamento de informações para abastecer os inquéritos do STF relacionados a ataques e disseminação de notícias falsas. As ordens de serviço e a produção de relatórios ocorreriam por mensagens em canais não oficiais, disse Tagliaferro.
O ex-assessor afirmou que havia “direcionamento de cunho político” por parte do ministro e de sua equipe. O objetivo seria “denegrir” a imagem de um polo político, no caso, da direita, e exaltar o outro polo, da esquerda.
“Essa linha que divide os trabalhos realizados ali é bem clara e evidente. Pode pegar todo o grupo do TSE, do qual chegavam as denúncias, e ver que não existe sequer uma denúncia para monitorar ou para fazer relatório de qualquer pessoa pertencente ao grupo político da esquerda. Todos, 100%, foram de direita. Inclusive, esse foi um dos motivos, tem outro mais grave que esse, que me chamou a atenção porque algo estava errado”, diz.
Em sua fala, Tagliaferro ainda “desafiou” Moraes a mostrar as mensagens e pedidos que chegavam em grupos de mensagens instantâneas para anexar publicações e materiais nos relatórios. “Em todos os pedidos, inclusive todos os e-mails oficiais que enviei para o STF, estão ali: qualquer tipo de pesquisa e investigação referente ao espectro da esquerda não existe.”
Tagliaferro foi exonerado do TSE em 2024, quando conversas suas com Moraes foram publicadas pela imprensa. Depois dos vazamentos, o ex-assessor de Moraes foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por violação de sigilo funcional, coação no curso do processo e obstrução de investigação penal.
Durante seu depoimento, Tagliaferro ainda afirmou que Moraes e sua equipe atuavam com um direcionamento de cunho político. No caso do inquérito das Fake News, o ex-assessor afirma que apenas pessoas ligadas ao espectro da direita eram alvo das investigações e entravam nas listas… pic.twitter.com/HaxHBY2P86
— O TEMPO (@otempo) September 3, 2025
Em nota, o gabinete do ministro Alexandre de Moraes informou que no curso das investigações dos inquéritos das Fake News e sobre milícias digitais, solicitações foram feitas a diversos órgãos, inclusive ao TSE, que teria competência para realização de relatórios sobre atividades ilícitas como desinformação, discursos de ódio eleitoral, tentativa de golpe de Estado e atentado à Democracia e às Instituições.
"Os relatórios simplesmente descreviam as postagens ilícitas realizadas nas redes sociais, de maneira objetiva, em virtude de estarem diretamente ligadas as investigações de milícias digitais. Vários desses relatórios foram juntados nessas investigações e em outras conexas e enviadas à Polícia Federal para a continuidade das diligências necessárias, sempre com ciência à Procuradoria Geral da República. Todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria Geral da República", informa o texto.