BRASÍLIA - O influenciador digital Rico Melquiades jogou o “jogo do trigrinho” na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga a atuação das empresas de apostas virtuais. O pedido foi feito pela relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que informou que queria ver o funcionamento da plataforma.  

“Vocês pediram para a Virginia fazer isso, jogar assim?”, reagiu Rico, questionando se a influenciadora digital Virginia Fonseca, que depôs na terça-feira (13), recebeu pedido semelhante. 

Depois, ele acessou a plataforma que tem contrato de publicidade e jogou o “jogo do trigrinho”, sendo observado por senadores e explicando as etapas do jogo, como o ganho a partir do termo "soltar a carta". O influenciador contou que movimentou R$ 120 nos minutos de demonstração, sendo que R$ 32 foram em apostas e R$ 88 em ganhos livres. 

Em seguida, Soraya pediu para que Rico entrasse em outro jogo, mas recebeu uma negativa do influenciador. “Eu não quero mais jogar. Assim eu estou induzindo as pessoas. Eu fiz o ganho e não quero mais jogar”, reagiu, acrescentando que sua ansiedade passa quando joga, mas os senadores estavam deixando-o “nervoso”.

Em outro momento, a relatora pediu para o influenciador resgatar o valor que tinha na plataforma de jogos para sua conta bancária. Inicialmente, Rico negou, mas depois aceitou o pedido. Ele, então, voltou a citar o nome de Virginia Fonseca.

"Sabe o que eu estou sentindo aqui na CPI? Que o tratamento com a Virginia ontem foi diferente do meu. Estou achando que vocês, assim... Eu acho que eu contribuí bastante, mas eu não estou à vontade. Sinto que vocês estão me pressionando muito. Ontem era risada, era selfie, foto no Instagram...".

Ao retomar a palavra, Soraya negou tratamento diferente, mas disse se propor a reconvocar a influenciadora para retornar à CPI "para agir da mesma forma". "Não há diferença nenhuma", frisou.

Rico foi convocado para depor como testemunha nesta quarta-feira (14). No Senado, ele negou o uso de uma conta “demo”, fornecida pelas próprias empresas, para divulgar jogos de apostas. Rico contou que criou o próprio login e senha na plataforma que faz conteúdo, assim como coloca recursos para fazer as apostas.  

Também vencedor do programa A Fazenda, da TV Record, ele contou que inicialmente, teve contato com a empresa Blaze e, agora, faz divulgação para a ZeroUm.Bet. Seus cachês, afirmou, têm valores fixos e não variam a partir de ganhos ou perdas dos usuários, nem de cadastro nas plataformas pelo link que divulga.  

"Eu nunca tive envolvimento direto com as empresas além do meu contrato de publicidade. Eu nunca participei de nada ilegal nem fui além da minha função como influenciador digital”, afirmou. “Eu nunca fiz nada fora da lei. Eu sempre divulguei porque não era proibido. Todo mundo divulgava”. 

O influenciador, no entanto, se recusou a revelar o valor de seu cachê e não respondeu se assinou acordo de persecução penal com o Ministério Público de Alagoas admitindo conduta criminosa na relação com “bets”. Ele compareceu à CPI munido de um habeas corpus que o autorizou a ficar em silêncio em perguntas que pudessem incriminá-lo. 

Em janeiro, Rico foi alvo da operação Game Over 2, deflagrada pela Polícia Civil de Alagoas, para investigação de promoção irregular de jogos de azar online. Na ocasião, ele teve bens apreendidos, como celulares e veículo, e contas bancárias bloqueadas.  

“Eu estou fazendo o meu trabalho, eu não obrigo ninguém a jogar e deixo claro que se tem problema com vício, não deve entrar na plataforma. [...] Do mesmo jeito que tem pessoas que se endividam para jogar, tem pessoas que se endividam para beber. As pessoas também podem pegar o dinheiro do Bolsa Família e gastar em cachaça, que é um vício”, frisou.