BRASÍLIA – Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) organizam um acampamento em frente à residência oficial do Senado, no Lago Sul, em Brasília, para pressionar o presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), por impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A intenção foi externada por grupo de apoiadores de Bolsonaro que foram ao condomínio onde ele mora, na noite de segunda-feira (4/8), após Moraes decretar a prisão domiciliar do ex-presidente. Para o ministro, o ex-presidente violou a medida cautelar que o proibia de usar as redes sociais, inclusive por meio de terceiros, ao participar remotamente de manifestações contra o STF no último domingo (3/8).
À frente do movimento por pressão à Alcolumbre está Sebastião Coelho, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDTF). Na noite de segunda-feira, em frente ao condomínio de Bolsonaro, ele convocou manifestantes a acamparem em frente à residência oficial do Senado.
“Vá para a porta de Davi Alcolumbre. Vá para a porta do Partido União Brasil, que já tem um povo acampado lá, na porta do Alcolumbre, até ele pautar o impeachment de Alexandre de Moraes”, disse Sebastião Coelho, com uso de um megafone, cercado por apoiadores de Bolsonaro.
Coelho foi aplaudido por bolsonaristas, que prometeram seguir a sugestão dele. No entanto, até o fim da manhã desta terça-feira (5/8), não havia barracas em frente à residência oficial do Senado nem na sede do União Brasil.
Antes de irem para o condomínio Solar de Brasília, ainda na noite de segunda-feira, apoiadores de Bolsonaro se reuniram em frente à Torre de TV, que fica no canteiro central do Eixo Monumental, a mesma avenida que leva à Esplanada dos Ministérios.
A intenção do grupo, do qual faziam parte Sebastião Coelho e parlamentar bolsonarista, como os deputados federais Evair de Melo (PP-ES) e Bia Kicis (PL-DF), era seguir em carreata até a Praça dos Três Poderes, com parada em frente ao edifício-sede do STF.
No entanto, com a notícia da carreta, a Polícia Militar fechou a Esplanada dos Ministérios. Com isso, o comboio com cerca de 20 carros com apoiadores de Bolsonaro seguiu para o Solar de Brasília, onde ao menos 50 pessoas ficaram até o fim da noite em apoio ao ex-presidente.
Sebastião Coelho deve se filiar ao partido Novo para disputar mandato de senador pelo Distrito Federal. Haverá duas vagas em disputa em 2026. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) deve disputar uma delas, assim como o governador Ibaneis Rocha (MDB), que busca apoio de Jair Bolsonaro.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) cobrou um posicionamento de Davi Alcolumbre nesta segunda-feira, após a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.
“Meu presidente Davi Alcolumbre, o que o senhor vai fazer em relação a isso? Eu sou um senador da República e quero proteção na minha Casa. Não é mais possível o senhor fazer como o Rodrigo Pacheco e ficar numa espécie de acordo para blindar um ministro do Supremo, quando ele claramente descumpriu a lei de impeachment. O Brasil está essa bagunça porque o Senado não está fazendo sua parte”, disse Flávio à CNN.
Moraes diz que Bolsonaro violou medidas cautelares
Para Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro violou a medida cautelar que o proibia de usar as redes sociais, inclusive por meio de terceiros, ao participar remotamente de manifestações contra o STF no último domingo. Apoiadores foram às ruas em diferentes cidades.
Ele discursou em Copacabana pelo celular do filho Flávio Bolsonaro e teve a imagem pelo celular exibida também em São Paulo pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), além da postagem do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), outro filho do ex-presidente.
O ministro do STF apontou descumprimento deliberado por Bolsonaro das medidas restritivas, a última vez durante os atos realizados no domingo. Além da prisão domiciliar, Moraes determinou a apreensão dos celulares de posse do ex-presidente, que é réu em ação penal acusado de liderar um plano de golpe de Estado no após a eleição de 2022.
Na decisão o ministro afirmou que “agindo ilicitamente, o réu Jair Messias Bolsonaro se dirigiu aos manifestantes reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro, produzindo dolosa e conscientemente material pré-fabricado para seus partidários continuarem a tentar coagir o Supremo Tribunal Federal e obstruir a Justiça, tanto que, o telefonema com seu filho, Flávio Nantes Bolsonaro, foi publicado na plataforma Instagram”.
O ministro também escreveu em sua decisão que “o réu Jair Messias Bolsonaro realizou ligação telefônica, por chamada de vídeo, com seu apoiador político e deputado federal Nikolas Ferreira, demonstrando o desrespeito a decisão proferida por esta Suprema Corte, em razão do claro objetivo de endossar o tema da manifestação de ataques ao STF”.
Para o ministro, houve uma “atuação coordenada dos filhos de Jair Messias Bolsonaro a partir de mensagens de ataques ao Supremo Tribunal Federal, com o evidente intuito de interferir no julgamento da AP 2.668/DF (ação penal do golpe)”.
Os advogados do ex-presidente criticaram a decretação da prisão domiciliar. Celso Vilardi, Daniel Tesser e Paulo Cunha Bueno assinam nota contestando que Bolsonaro descumpriu as medidas cautelares impostas a ele pela Corte e prometem recorrer da prisão domiciliar.
“A defesa foi surpreendida com a decretação de prisão domiciliar, tendo em vista que o ex-presidente Jair Bolsonaro não descumpriu qualquer medida”, afirmam. Eles argumentam que todas as determinações foram seguidas à risca e pontuam que a participação de Bolsonaro nos atos de domingo por ligação de vídeo não desrespeitam as restrições.
Vizinhos de Bolsonaro temem acampamento
Como mostrou O TEMPO nesta terça-feira, os moradores do Solar de Brasília estão preocupados com o possível acampamento de apoiadores do ex-presidente em frente ao condomínio onde ele mora e cumpre prisão domiciliar.
Em grupo de Whatsapp dos moradores, eles trocaram mensagens após a decretação da prisão domiciliar do vizinho reclamando do aumento de pessoas em frente à entrada do condomínio com casas de alto padrão, o que provocou engarrafamento. A equipe de O TEMPO em Brasília teve acesso ao conteúdo.
“Eu só quero chegar em casa. O trânsito não anda”, reclamou uma moradora, na noite de segunda-feira, enquanto apoiadores de Bolsonaro faziam um buzinaço em frente ao condomínio. “Se esse povo vier protestar aqui, é um erro”, escreveu outra, a caminho de casa. Alguns sugeriram levar o ex-presidente para Papuda.
Também houve quem foi à porta do Solar de Brasília apoiar a decisão de Moraes. Um trompetista tocou a marcha fúnebre com seu instrumento, em uma clara provocação a Bolsonaro e apoiadores. “Buzinaço, polícia, corneta, um inferno”, escreveu um morador no grupo de Whatsapp. A Polícia Militar enviou uma equipe ao local.
O Solar de Brasília fica na região administrativa do Jardim Botânico, área nobre de Brasília tomada por dezenas de condomínios horizontais. A casa onde Bolsonaro mora é alugada, paga pelo PL, partido que tem Bolsonaro como presidente de honra. Ela fica a cerca de 10km (20 minutos de carro, dependendo do fluxo) do Congresso Nacional.
Bolsonaro e família chegaram a morar em outra casa no mesmo condomínio. Em novembro de 2024, após reclamar do pouco espaço e da falta de privacidade devido à curiosidade de vizinhos, o ex-presidente mudou para a casa atual, onde a PF cumpriu a ordem judicial de Moraes na segunda-feira.