BRASÍLIA – Monitoramento do Instituto Quaest divulgado nesta terça-feira (5/8) mostra usuários das redes sociais divididos sobre a decretação de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com base nas publicações feitas na segunda-feira (4/8), 53% apoiavam a medida do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Já 47% das postagens se manifestaram contra.
O Instituto Quaest fez um levantamento das publicações no X, Instagram, Facebook, Reddit e YouTube. Os índices foram baseados em cerca de 1,2 milhão de menções sobre Bolsonaro e o decreto de prisão domiciliar, feitas até as 21h de segunda-feira. A decisão de Moraes foi tornada pública por volta das 18h do mesmo dia.
Nas redes sociais, os que apoiam Bolsonaro apontam que a determinação do magistrado é um “abuso de poder” e a denominam de “vingança”. Já para os que concordam com a prisão domiciliar, termos como “grande dia” e “Bolsonaro preso” ganham destaque nas redes sociais.
Moraes diz que Bolsonaro violou medidas cautelares
Para Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro violou a medida cautelar que o proibia de usar as redes sociais, inclusive por meio de terceiros, ao participar remotamente de manifestações contra o STF no último domingo. Apoiadores foram às ruas em diferentes cidades.
Ele discursou em Copacabana pelo celular do filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e teve a imagem pelo celular exibida também em São Paulo pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), além da postagem do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), outro filho do ex-presidente.
O ministro do STF apontou descumprimento deliberado por Bolsonaro das medidas restritivas, a última vez durante os atos realizados no domingo. Além da prisão domiciliar, Moraes determinou a apreensão dos celulares de posse do ex-presidente, que é réu em ação penal acusado de liderar um plano de golpe de Estado no após a eleição de 2022.
Na decisão o ministro afirmou que “agindo ilicitamente, o réu Jair Messias Bolsonaro se dirigiu aos manifestantes reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro, produzindo dolosa e conscientemente material pré-fabricado para seus partidários continuarem a tentar coagir o Supremo Tribunal Federal e obstruir a Justiça, tanto que, o telefonema com seu filho, Flávio Nantes Bolsonaro, foi publicado na plataforma Instagram”.
O ministro também escreveu em sua decisão que “o réu Jair Messias Bolsonaro realizou ligação telefônica, por chamada de vídeo, com seu apoiador político e deputado federal Nikolas Ferreira, demonstrando o desrespeito a decisão proferida por esta Suprema Corte, em razão do claro objetivo de endossar o tema da manifestação de ataques ao STF”
Para o ministro, houve uma “atuação coordenada dos filhos de Jair Messias Bolsonaro a partir de mensagens de ataques ao Supremo Tribunal Federal, com o evidente intuito de interferir no julgamento da AP 2.668/DF (ação penal do golpe)”.
Os advogados do ex-presidente criticaram a decretação da prisão domiciliar. Celso Vilardi, Daniel Tesser e Paulo Cunha Bueno assinam nota contestando que Bolsonaro descumpriu as medidas cautelares impostas a ele pela Corte e prometem recorrer da prisão domiciliar.
“A defesa foi surpreendida com a decretação de prisão domiciliar, tendo em vista que o ex-presidente Jair Bolsonaro não descumpriu qualquer medida”, afirmam. Eles argumentam que todas as determinações foram seguidas à risca e pontuam que a participação de Bolsonaro nos atos de domingo por ligação de vídeo não desrespeitam as restrições.
Vizinhos de Bolsonaro teme acampamento
Como mostrou O TEMPO, os moradores do condomínio Solar de Brasília, onde Jair Bolsonaro mora e cumpre prisão domiciliar, estão preocupados com o possível acampamento de apoiadores do ex-presidente.
Em grupo de WhatsApp dos moradores, eles trocaram mensagens após a decretação da prisão domiciliar do vizinho, reclamando do aumento de pessoas em frente à entrada do condomínio com casas de alto padrão, o que provocou engarrafamento. A equipe de O TEMPO em Brasília teve acesso ao conteúdo.
“Eu só quero chegar em casa. O trânsito não anda”, reclamou uma moradora, na noite de segunda-feira, enquanto apoiadores de Bolsonaro faziam um buzinaço em frente ao condomínio. “Se esse povo vier protestar aqui, é um erro”, escreveu outra, a caminho de casa. Alguns sugeriram levar o ex-presidente para Papuda.
Também houve quem foi à porta do Solar de Brasília apoiar a decisão de Moraes. Um trompetista tocou a marcha fúnebre com seu instrumento, em uma clara provocação a Bolsonaro e apoiadores. “Buzinaço, polícia, corneta, um inferno”, escreveu um morador no grupo de Whatsapp. A Polícia Militar enviou uma equipe ao local.
O Solar de Brasília fica na região administrativa do Jardim Botânico, área nobre de Brasília tomada por dezenas de condomínios horizontais. A casa onde Bolsonaro mora é alugada, paga pelo PL, partido que tem Bolsonaro como presidente de honra. Ela fica a cerca de 10km (20 minutos de carro, dependendo do fluxo) do Congresso Nacional.
Bolsonaro e família chegaram a morar em outra casa no mesmo condomínio. Em novembro de 2024, após reclamar do pouco espaço e da falta de privacidade, o ex-presidente mudou para a casa atual, onde a PF cumpriu a ordem judicial de Moraes na segunda-feira.
Confira abaixo detalhes do condomínio onde Bolsonaro mora e cumpre a prisão domiciliar:
- Cada imóvel do condomínio Solar de Brasília precisa pagar uma taxa mensal de R$ 976 – ou R$ 887 se pagar até o dia 5 do mês para manutenção das áreas comuns;
- O condomínio tem três quadras (quarteirões) interligadas. Os moradores com as tags em carros e os rostos cadastrados têm acesso a todas elas;
- Cada quadra tem ao menos um parque infantil. Há uma área grande de convivência na quadra 2, com campo de futebol gramado, rampas de skate, quadra de futsal e basquete, quadra de tênis e uma quadra de areia para vôlei. Há ainda churrasqueiras;
- O síndico está no início do mandato e tem investido muito em eventos para unir os moradores. Entre outros, já realizou festas para comemorar o dia das mães, dos pais e o período junino;
- A festa de halloween já é tradicional no condomínio. Recentemente, o síndico criou um happy hour, às sextas-feira, com comidas e bebidas vendidas em food trucks.