À PF

Valdemar cita 'clima de luto' e Bolsonaro 'muito abatido' após derrota para Lula

O presidente do PL disse ter sido pressionado por Bolsonaro para entrar no TSE com ação questionando o resultado da eleição em que saiu derrotado por Lula

Por Lucyenne Landim
Publicado em 15 de março de 2024 | 14:10
 
 
 
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O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, contou, em depoimento à Polícia Federal (PF) em 22 de fevereiro, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu à derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. Na época, o então presidente se isolou no Palácio da Alvorada (residência oficial em Brasília) e só falou publicamente no começo de novembro, cerca de um mês depois do pleito.

O político afirmou que sua visita ao local em 1º de novembro tinha o objetivo de "ver como Bolsonaro estava, visto que tinha perdido a eleição". De acordo com Valdemar, "não havia fluxo de pessoas" no Alvorada e Bolsonaro "quase não conversava com ninguém". Além disso, o "clima era de luto". Ele foi ao local nos dois dias seguintes ao segundo turno eleitoral, realizado em 30 de outubro. 

Questionado sobre uma terceira ida ao local em 7 de novembro, disse que "as visitas eram sempre para tentar animar o presidente, que estava muito abatido". O presidente do PL respondeu "não" quando indagado se, ainda no dia 7, Bolsonaro aceitou ou questionou o resultado eleitoral. 

O ex-presidente teria questionado a conclusão das urnas "apenas" na apresentação do relatório do Instituto Voto Legal (IVL), contratado pelo PL por cerca de R$ 1 milhão para fazer um suposto estudo sobre o sistema eleitoral. O documento "seria a base do pedido de verificação extraordinária [do resultado], visando a fiscalização do pleito eleitoral", disse Valdemar.

O dirigente partidário contou que foi pressionado por Bolsonaro e por deputados do PL para que apresentasse o estudo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ação foi feita, mas, sem provar os questionamentos ao sistema eleitoral. Diante disso, o PL foi multado em R$ 22,9 milhões pelo presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes. Segundo Valdemar, em 23 de novembro, em outra visita ao Alvorada, foi decidido que não haveria mais questionamentos à decisão do TSE, apenas à multa aplicada.

Ele declarou ainda que "não concorda" com a fala de Bolsonaro de que haveria fraude nas urnas, "pois já participou de várias eleições e nunca presenciou nada que desabonasse o sistema eleitoral brasileiro". Também, que "nunca recebeu orientação do então presidente Jair Bolsonaro para questionar as urnas eletrônicas, mas apenas para fiscalizar".

O dirigente declarou que a suposta minuta de golpe "nunca foi discutida" com Bolsonaro e que não esteve em reunião no local em 7 de dezembro - e por isso, não sabe o que foi tratado e nem conversou com Bolsonaro - quando o então presidente teria apresentado o documento para anular as eleições aos comandantes do Exército, Freire Gomes, da Marinha, Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, Baptista Júnior.

O presidente do PL acrescentou que "nunca teve ciência de qualquer ação ou planejamento" sobre o suposto plano de golpe de Estado. Disse também que recebia "cartas encaminhadas por pessoas desconhecidas" com teor golpista, mas que descartava os documentos por considerá-los suspeitos. Houve descarte na sede do PL, em Brasília.

Valdemar também foi questionado sobre a PF sobre a motivação de sua fala de que "Bolsonaro não vai decepcionar ninguém" em um vídeo gravado e direcionado aos acampados em unidades militares após as eleições. A resposta dele foi de que Bolsonaro "continuaria liderando a oposição como presidente de honra do Partido Liberal".

Valdemar da Costa Neto foi preso em operação

Valdemar Costa Neto chegou a ser preso em flagrante no dia 8 de fevereiro, no âmbito da operação Tempus Veritatis. Ele ficou por dois dias detido na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília. Ele foi preso por porte ilegal de arma após agentes federais encontrarem na residência dele uma arma sem registro e uma pepita de ouro.

No dia 10 de fevereiro, o ministro do STF Alexandre de Moraes concedeu liberdade provisória a ele, mas determinou a manutenção de medidas cautelares. Valdemar foi descrito no inquérito da PF como um dos responsáveis por usar a estrutura do PL, inclusive a parte financeira, para elaborar estudos que colocassem em descrédito o sistema eleitoral brasileiro, mais especificamente sobre as eleições presidenciais de 2022. 

Operação Tempus Veritatis

O depoimento foi feito no âmbito da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF em 8 de fevereiro. Segundo as investigações, Bolsonaro e seus aliados se articularam para promover um golpe de Estado e mantê-lo no poder, visando impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Para conseguir os 33 mandados de busca e apreensão, as 48 medidas cautelares que podem incluem apreensão de passaporte e/ou proibição de manter contato com os demais investigados, além das quatro ordens de prisão, a PF apresentou à Procuradoria-Geral da República (PGR) um relatório. O documento tem análises de investigadores, com material anexado e apresentado como prova.

O conteúdo inclui mensagens de textos e áudios, além de vídeos dos investigados. Na representação, a PF disse haver indícios de tentativa de que uma “organização criminosa” visava golpe de Estado e planejou a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. 

  • A tentativa de golpe de Estado é considerada crime, com pena que varia de 4 a 12 anos de prisão, além da punição correspondente à violência empregada para a busca de tomada do poder – ou permanência no poder, caso a intenção seja beneficiar quem está nele. 
  • Já a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito ocorre quando alguém atua com violência ou grave ameaça para impedir ou restringir o exercício dos poderes constitucionais, como o STF. A punição vai de 4 a 8 anos de prisão, além da pena relativa à violência usada.

 

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