BRASÍLIA – A acareação realizada nesta quarta-feira (13/8) entre o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, e o ex-assessor da Presidência da República Marcelo Câmara foi avaliada pela defesa do coronel da reserva como um passo importante para a absolvição do réu. 

O advogado Eduardo Kuntz afirmou que o interrogatório, que colocou os dois militares e ex-colegas da ajudância de ordens frente a frente, deixou “muito claro” que Câmara não manipulou qualquer minuta golpista e que o chamado “monitoramento” de autoridades, inclusive do ministro Alexandre de Moraes e da chapa Lula-Alckmin eleita em 2022, se tratava apenas de “ajustes pontuais” de agendas.

“O tenente-coronel Cid deixou muito claro que ele [Marcelo Câmara] nunca teve acesso ou manipulou essa minuta, o que é uma contribuição importante para a investigação e agora, nesse momento final, também para a sentença. E com relação ao monitoramento, como a gente vem dizendo, sempre foi um ajuste de agenda”, disse ao final da acareação, que durou cerca de 30 minutos e foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes. 

Marcelo Câmara é apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como integrante de um núcleo que articulava ações para manter Bolsonaro no poder, sendo denunciado por atrapalhar investigações. 

Segundo Kuntz, o próprio Cid reconheceu que não houve acompanhamento contínuo ou estruturado, tampouco uso de equipamentos para rastrear movimentos das autoridades.

O advogado reforçou que a expressão “monitoramento” foi usada de forma indevida pela investigação e que os registros se limitavam à marcação de compromissos, como encontros de Michel Temer e Ciro Nogueira com autoridades.

“Tanto da Polícia Federal quanto da própria denúncia [apresentada pela PGR ao STF], a gente espera essa correção agora na sentença”, avaliou.

Pontos a serem esclarecidos

O pedido de acareação feito ao ministro Alexandre de Moraes buscava esclarecer três pontos levantados por Cid em sua delação: a suposta manipulação de minutas, o suposto monitoramento constante de Moraes, Lula e Alckmin, e o conhecimento de Câmara sobre esses atos e sobre o envolvimento do “kid preto” Rafael Martins de Oliveira.

Réu por tentativa de golpe de Estado, Marcelo Câmara integra o chamado “núcleo 2” da trama que, segundo a Procuradoria-Geral da República, planejava manter Jair Bolsonaro no poder. As investigações apontam que o grupo tinha como função coletar dados e informações estratégicas para facilitar a execução do golpe. Câmara nega as acusações e está preso preventivamente sob suspeita de tentar acessar ilegalmente informações sigilosas da delação de Mauro Cid.