Apesar de comparecer em solenidade no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (20), em Brasília, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), não conseguiu falar em particular com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como era esperado por auxiliares do governo do Estado.
Ao chegar na sede do governo federal e na sua saída, o chefe do Executivo mineiro optou por não falar com a imprensa. Ele cumpria, nas últimas semanas, missão oficial na Ásia, e chegou ao Brasil no último sábado (18), e viajou para Brasília para tentar um encontro com o petista.
Não havia compromisso previamente marcado com o petista, mas o mineiro iria tentar uma brecha na agenda de Lula para tratar sobre a dívida bilionária do Estado com a União. No entanto, quem recebeu Zema e o vice-governador Matheus Simões (Novo), foi o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. O secretário Geral do Estado, Marcel Dornas, também participou do encontro que ocorreu à portas fechadas.
Zema e sua comitiva foram até Brasília após sofrer pressão pública de lideranças políticas de Minas de que estaria inoperante em relação ao tema. Isso porque a previsão é a de que a dívida do Estado com a União chegue a R$ 161 bilhões em dezembro deste ano.
E, por mais que a solução do impasse financeiro passe pela capital federal, Zema não teria tentado diálogo com a equipe econômica de Lula e nem mesmo com o presidente, uma vez que o governador sempre evitou falar com o petista. Quando tentou, já estava tardio do ponto de vista político.
Nos bastidores, é dito que Lula somente vai se encontrar com o chefe do Executivo mineiro após o petista se reunir com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A expectativa é a de que a reunião ocorra nesta terça-feira (21). O motivo seria respeitar “a ordem das coisas”, uma vez que o senador foi quem iniciou as tratativas com o governo federal.
Em um intervalo de uma semana, Pacheco se encontrou com Lula em duas ocasiões distintas, no Palácio do Planalto, para discutir sobre o débito do Estado. Além disso, deu declarações públicas cobrando que Zema conversasse com o Executivo federal.
Intensificando a investida de ser o “protagonista” da solução da dívida e já de olho nas eleições para o comando do Estado em 2026, o senador também se reuniu, na última semana, com o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Leite (MDB), e outras lideranças da Casa.
O encontro ocorreu na presidência do Congresso Nacional, em Brasília, e eles fecharam uma proposta alternativa, que está sendo validada por técnicos do Senado e da ALMG, e será entregue a Lula. Somente após isso, segundo fontes do Planalto, serão iniciadas as conversas com Zema.
Entenda como o tema virou pauta em Brasília
Desde que assumiu o comando do Estado, em 2019, Zema tem falado sobre a dívida pública estadual, mas somente resolveu tomar uma atitude efetiva no segundo semestre deste ano, quando enviou de fato o plano de adesão de Regime de Recuperação Fiscal (RRF) para a ALMG.
Contudo, o prazo para aprovação é apertado: 20 de dezembro deste ano - prazo que cai liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) de adiamento do pagamento da dívida. Além disso, o Executivo mineiro tem encontrado resistência dos parlamentares no Legislativo por contrapartidas consideradas “caras” para os deputados estaduais, como a privatização de empresas estatais e congelamento no reajuste no salário dos servidores, a menos de um ano das eleições municipais de 2024.
Ao ser pressionado nesse meio tempo, Zema chegou a enviar para a capital federal um ofício ao Senado pedindo ajuda de Pacheco nesse imbróglio. As três alternativas apresentadas pelo governador, no entanto, não chegaram a entrar no documento fechado pelas lideranças mineiras.
Como pano de fundo dessa busca por protagonismo também está a pretensão do PSD de Minas de ter um candidato ao governo de Minas nas eleições de 2026. Pacheco é um dos nomes ventilados para a disputa, e não descarta entrar no páreo. Enquanto isso, Zema tenta emplacar o sucessor, que hoje seria o vice-governador de Minas, Matheus Simões.