BRASÍLIA - O ex-chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) Rivaldo Barbosa negou ter tido contato com o deputado federal Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ) e com o irmão dele, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão.
O policial ainda acrescentou que “foi a milícia” que matou a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) em março de 2018. Ele depôs na segunda-feira (15) ao Conselho de Ética da Câmara, no âmbito do processo que pede a cassação do mandato de Chiquinho.
“Desde o dia em que eu nasci, eu nunca falei com nenhum irmão Brazão. Eu nunca falei com essas pessoas na minha vida”, afirmou. Rivaldo e os irmãos Brazão estão presos desde 24 de março por suposto envolvimento no assassinato de Marielle.
No crime, cometido em 2018, o motorista dela, Anderson Gomes, também foi morto. Segundo autoridades, os irmãos foram apontados como mandantes do crime, enquanto Rivaldo teria obstruído as investigações.
“Eu estou aqui preso há quase quatro meses, e a única coisa que eu fiz foi indicar o delegado Giniton [Lages], que efetivamente prendeu com provas técnicas o Ronnie Lessa”, disse em depoimento feito de forma virtual do presídio.
Lessa é assassino confesso de Marielle e de Anderson e citou o envolvimento de Rivaldo no caso em depoimento do acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF). O ex-chefe da PCRJ disse ter “absoluta certeza” de que Lessa inventou sobre sua suposta participação no crime.
"Isso é uma voz de alguém que foi preso pela Polícia Civil. Eu queria fazer uma interpretação lógica. Olha só, o Ronnie Lessa foi preso, por quem? Pelo delegado Giniton. Quem colocou o delegado Giniton? Rivaldo. Ele agora se volta contra quem efetivamente investigou. Isso é uma mentira desse assassino, que foi preso pelo delegado que eu indiquei”, declarou.
O ex-chefe da PCRJ desviou de várias perguntas sobre as linhas de investigação sobre o crime. Ele disse que comandava 170 delegacias e apenas havia indicado o ex-delegado Giniton Lopes para conduzir o caso, que é quem poderia dar mais detalhes.
“A única coisa que fiz foi indicar o delegado. Existe a fala do Ronnie Lessa e outras linhas de investigação que foram desprezadas. Uma coisa eu sei: quem matou foi o Ronnie Lessa”, afirmou.
“Eu respondo por Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior, que nunca teve qualquer tipo de relação com os irmãos Brazão. Quer ver uma coisa, excelência? O meu advogado acaba de falar aqui comigo que existe uma pessoa, um tal de miliciano, chamado Fininho, que teria dado a arma, e sequer foi ouvido no inquérito; ele sequer foi ouvido no inquérito, dando conta de que ele teria dado a arma e depois o Ronnie Lessa teria devolvido a arma. Como é que uma pessoa dessas não é ouvida?”, continuou.
De acordo com relatório da PF, a Delegacia de Homicídios, comandada por Giniton, “não somente se absteve de promover diligências frutíferas para a investigação, mas também concorreu para a sabotagem do trabalho apuratório”.
“A milícia é um câncer, um mal, uma coisa muito horrível, e eu lutei muito contra a milícia. E hoje eu estou aqui em razão disso, de ter brigado tanto quanto essas pessoas. Então, a milícia hoje no Rio de Janeiro é um câncer que faz com que muitas pessoas sejam mortas, inclusive a vereadora Marielle e o motorista Anderson”, completou.
Outras testemunhas
Rivaldo foi ouvido na condição de testemunha de defesa de Chiquinho Brazão. Também prestou depoimento na segunda-feira o vereador da Câmara Municipal do Rio William Coelho (DC). Ele disse que existir a milícia no Estado do Rio "é um fato notório, está o tempo todo sendo noticiado”, mas garantiu não acreditar "que esse tipo de organização criminosa influencia na política do Rio de Janeiro”.
De acordo com as investigações, o assassinato de Marielle teria sido ordenado por uma disputa de regularização de terras, além das milícias. Coelho contou ainda que não presenciou desentendimentos entre a vereadora e Chiquinho, que na época era vereador.
“Eu acho que a relação de todos ali com a vereadora Marielle Franco sempre foi muito boa, inclusive a do deputado Chiquinho Brazão. Nunca presenciei nenhuma animosidade, nenhum desentendimento, aliás, com nenhum vereador da Câmara. Marielle era uma vereadora muito respeitada, muito querida na Câmara, defendia suas posições com firmeza, mas também sempre de forma muito educada, e eu nunca presenciei nenhum tipo de problema ou desentendimento com a vereadora”, frisou.
Já o ex-deputado federal Paulo Sérgio Ramos Barboza (PDT), que participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio, se disse surpreso com o suposto envolvimento dos irmãos Brazão no crime. Ele defendeu que haja presunção de inocência do deputado.
"Eu fiquei surpreso, porque houve idas e vindas na investigação em relação à tentativa de encontrar os mandantes, mas eu, a priori, pelo conhecimento que tenho e que tinha da realidade política no Rio de Janeiro e dos conflitos, fiquei muito surpreso e em uma tendência inicial de não acreditar”, disse.