Três militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que enviaram detalhes das viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, no início de março deste ano, foram responsáveis também por planejar e coordenar várias viagens do petista nos meses seguintes. É o que mostra documentos que a equipe de O TEMPO em Brasília teve acesso.  

O tenente do Exército Márcio Alex da Silva, por exemplo, foi escalado pelo GSI para ser o coordenador adjunto da viagem que o presidente Lula fará a capital da África do Sul entre 22 e 24 de agosto. A circular é de 31 de julho.  

Alex da Silva, como é conhecido o militar, foi também coordenador adjunto e esteve nas viagens de Lula à China e Emirados Árabes Unidos, ambas em abril, em Londres no mês de maio, e França em junho. Em um dos documentos que a reportagem teve acesso a viagem à Pequim e Abu Dhabi estavam escritas “urgentíssimo”. 

O suboficial da Marinha Rogério Dias Souza foi “adjunto de coordenador de viagens” de Lula a Portugal, em abril, e foi “auxiliar de coordenador de viagem” que o petista realizaria à China no mês de março. No primeiro momento, o presidente viajaria a Pequim em março, mas como ficou doente, a visita ao líder chinês Xi Jinping foi reprogramada. Ainda assim, o militar atuou no planejamento mesmo assim. 

Já o suboficial da Marinha Jefferson Freire foi auxiliar de coordenação de Lula na viagem à Bélgica, em julho, e na cidade brasileira de Salvador (BA), no início de maio.   

Entenda o caso  

Os e-mails funcionais de Mauro Cid enviados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro mostram que o ex braço direito de Bolsonaro recebeu documentos “urgentíssimos” sobre quatro viagens e três eventos de Lula, dentro e fora do Brasil. É o que revelou reportagem do portal Metrópoles nesta quarta-feira (9). 

As mensagens foram enviadas a Mauro Cid entre 6 a 13 de março deste ano e partiram de dentro da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI. Os e-mails partiram de três militares do GSI: tenente Márcio Alex da Silva, do Exército; sub oficial Dione Jefferson Freire, da Marinha; e Rogério Dias Souza, da Marinha. Todos eles já trabalhavam no GSI na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Os e-mails foram enviados por esses militares para os órgãos responsáveis por organizar as viagens presidenciais. Ainda de acordo com o portal Metrópoles, Mauro Cid, assim como o seu ex-braço direito o tenente Osmar Crivelatti, estavam recebendo os e-mails que eram enviados para esses órgãos

Ainda assim, após terem encaminhado mensagens para a lista de transmissão que tinha Cid e Crivelatti, os três militares continuaram a auxiliar nas agendas do presidente Lula.  

Por meio de nota, a assessoria de imprensa do Gabinete de Segurança Institucional informou que todos os envolvidos foram afastados e serão exonerados do cargo. O órgão disse “que está instaurando sindicância para apurar os fatos, os militares citados foram afastados do trabalho e serão desligados da Presidência da República”

Devido a repercussão do caso, auxiliares contaram à reportagem que o tenente Alex, que estava no Rio de Janeiro foi chamado de volta à Brasília nesta quarta-feira. Ele estava integrando como auxiliar de coordenação do Escalão Avançado (EscAv) do presidente Lula à cidade, que lança o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na capital fluminense na próxima sexta-feira (11).

Fontes próximas que costumam acompanhar as viagens presidenciais relataram à reportagem que é comum receber ofícios circulares redigidos pelo Departamento de Coordenação de Eventos, Viagens e Cerimonial Militar (DCEV), com informações sobre viagens do Presidente. A dúvida, agora, é entender o motivo pelo qual Mauro Cid e Osmar Crivellati ainda estavam na lista de transmissão de e-mails do GSI. O órgão responsável pela exclusão dos acesso aos e-mails funcionais de ex-servidores é a Diretoria de Tecnologia (DITEC), órgão vínculad à Secretaria Geral da Presidência da República.