BRASÍLIA – O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na manhã desta terça-feira (12/8), em resposta às declarações do norte-americano sobre a violência urbana em Brasília.

O republicano citou Brasília e outras capitais ao anunciar, na segunda-feira (11/8), que as autoridades federais assumirão o controle da segurança de Washington, a capital dos EUA, e mobilizarão a Guarda Nacional para “limpá-la” do crime das “gangues violentas”.

Embora os números oficiais mostrem uma redução nos crimes violentos em Washington, Trump afirmou que a cidade, governada por uma prefeita democrata, tem altos índices de criminalidade e relacionou isso ao grande número de sem-teto, que promete banir da capital norte-americana. 

Trump comparou a situação na capital com a de “alguns dos locais considerados os piores do mundo” em termos de insegurança. Ele citou várias capitais latino-americanas, ao mostrar um papel com gráfico, com números questionáveis.

“Olhando os números temos alguns gráficos com diferentes cidades ao redor do mundo: Bagdá, Panamá, Brasília, San José, Bogotá, Cidade do México, Lima... [Em comparação a todos] nós dobramos ou triplicamos [a taxa de criminalidade]. Vocês querem viver em lugares como esses? Eu acredito que não”, disse Trump.

Trump afirmou que Brasília tem 13 homicídios por 100 mil habitantes. No mesmo dia, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal divulgou sua estatística, que aponta 6,9 homicídios por 100 mil moradores. 

Ibaneis diz que declarações de Trump ‘não refletem a realidade’

Na carta entregue à Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Ibaneis desmente números apresentados por Trump, ressalta a autonomia de Brasília em relação ao governo federal e critica a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem sido alvo de Trump.

O governador do DF, diz, na carta que tem “respeito e admiração pela histórica relação de cooperação e amizade entre o Brasil e os Estados Unidos da América” e que “o diálogo transparente e baseado em fatos é o alicerce de qualquer parceria sólida”.

“É necessário esclarecer, com base em dados oficiais, que tal percepção não reflete a realidade da capital brasileira. São informações equivocadas, possivelmente decorrentes da atual ausência de um diálogo mais consistente entre o Brasil e os Estados Unidos”, diz.

“No modelo federativo brasileiro, cada estado e o Distrito Federal possui autonomia para estruturar e conduzir sua própria política de segurança pública”, continua o governador na carta à Trump. Em seguida, Ibaneis fez questão de deixar claro que faz oposição à Lula. 

“Nesse contexto, o Governo do Distrito Federal, por mim conduzido, é de centro-direita, em oposição ao atual Governo Federal, de esquerda. Por isto, a segurança pública da capital do Brasil tem por foco resultados concretos, livre de vieses ideológicos”, ressalta Ibaneis. 

“O sucesso obtido decorre da autonomia de Brasília, garantida pela Constituição Federal do Brasil, e da determinação de proteger a população acima de interesses partidários”, prossegue o governador, que deve se lançar ao Senado em 2026, contando com apoio de Jair Bolsonaro (PL).

“Diferentemente do atual Governo Federal, acredito no diálogo e na força das relações diplomáticas. Tenho, de forma reiterada, afirmado que o Governo Federal deve abandonar disputas ideológicas e adotar uma postura pragmática nas relações internacionais, abrindo canais de negociações produtivas com os Estados Unidos da América”, completa.

Trump impôs tarifas ao Brasil pedindo liberdade para Bolsonaro

Trump impôs 50% a produtos brasileiros sob a alegação de defender os direitos humanos e a liberdade de expressão. O norte-americano deixou claro, em carta a Lula, que a medida foi motivada pela ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura tentativa de golpe de Estado.

O republicano citou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu na ação e seu aliado político, e exigiu sua absolvição e anistia para concorrer à Presidência do Brasil em 2026 – Bolsonaro foi considerado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O governo Trump também tem aplicado sanções ao relator da ação no STF, o ministro da Corte, Alexandre de Moraes. Mandou suspender o visto dele e outros magistrados e aplicar lei que bloqueia bens e operações financeiras dele nos EUA – mas o visto de Moraes está vencido há dois anos e ele não tem dinheiros nem bens nos EUA.

Por meio de redes sociais, alguns assessores próximos de Trump têm atacado tanto Lula quanto Moraes, com ameaças de sanções adicionais ao Brasil e ao magistrado, como defende o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), que se mudou para os EUA em março com o objetivo de obter punições para evitar a condenação de seu pai no Brasil.